Folha de S. Paulo


Iraniano para volta ao mundo em barco-bicicleta por multa da Receita

Um aventureiro iraniano que está dando a volta ao mundo em um veículo anfíbio –na terra, roda como bicicleta, e, no mar, como uma espécie de bote movido a pedaladas-, teve que interromper sua jornada em São Paulo depois de receber uma multa de US$ 18 mil da Receita Federal.

No dia 23 de novembro do ano passado, Ebrahim Hemmatnia, 38, saiu de Dacar, no Senegal, com destino a Fortaleza. Em 28 de janeiro, seu barco-bicicleta foi atacado por tubarões, que danificaram o leme. Por rádio, pediu ajuda da Marinha brasileira, que o resgatou e o levou a Natal.

Quando entrou no país, recebeu um visto de permanência de 90 dias e conseguiu isenção do imposto para seu barco-bicicleta, já que não iria permanecer no país.

De Natal, Ebrahim começou a pedalar até São Paulo, onde chegou no começo de junho. Ele diz que a quantidade de carros não o assustou, pois cresceu em Teerã, onde também há muito trânsito.

"Tenho experiência como ciclista, mas gastei muita energia para não me envolver em nenhum acidente", diz.

Na estrada para São Paulo, ele procurou a Polícia Federal. Foi informado que, caso permanecesse no país, teria que pagar uma multa diária de R$ 8,28. "Pensei que já havia gastado muito para vir ao Brasil e poderia pagar isso para ficar por algumas semanas a mais", diz.

Mas, além do visto, havia a autorização de entrada para o barco-bicicleta. Em São Paulo, descobriu que a Receita está cobrando US$ 18 mil (R$ 54 mil, uma porcentagem do valor declarado do veículo) por ele ter ficado mais tempo do que o permitido com o bem.

"Mostraram-me documentos em português, me disseram que a autorização era só de três meses. Acho que não é justo. Não sei lidar com uma burocracia tão estranha."

Jovany Sampaio Junior, assessor da superintendência da Receita no Recife, diz que é possível pedir uma prorrogação da autorização.

Ebrahim fez um apelo por advogados nas redes sociais e Matheus Piazzon Tagliari se dispôs a ajudá-lo sem cobrar. "Vamos entrar com um pedido judicial para não recolher a multa", afirma Tagliari.

Sem dinheiro, Ebrahim decidiu voltar a Apeldoorn, na Holanda, onde vive há 14 anos, para buscar mais fundos com patrocinadores.

Ele deixou o Brasil na última terça (16). O barco-bicicleta ficou estacionado em São Paulo. Ele pretende voltar ao Brasil e então pedalar até a Argentina, atravessar para o Chile, subir até o Peru e, de lá, atravessar o oceano Pacífico até a Austrália. "O único risco é a aduana", diz.


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