Folha de S. Paulo


No Cantareira, grupo de amigos caminha 1,5 km para achar a água

O atleta Demétrio Vieira da Silva, 53, frequenta as margens das represas do sistema Cantareira com os amigos desde a década de 1970.

Neste domingo (14), juntou-se a três companheiros de infância para ir a Piracaia, ao ponto na beira da represa onde eles costumam se encontrar para fazer churrasco, pescar e nadar. Fazia três anos que os quatro amigos não faziam esse programa.

Silva vem perdendo a visão desde os 7 anos, por causa de uma doença chamada retinose pigmentar.

Para ter uma noção da mudança que a seca prolongada causa na paisagem, resolveu caminhar com os companheiros desde o lugar onde eles costumavam fazer churrasco, a poucos metros das represas de Jacareí e Jaguari, no sistema Cantereira, até o ponto onde está a reserva de água hoje.

Ao chegar lá, haviam percorrido 1,5 quilômetro. "Fizemos questão de andar até a margem para podermos perceber a distância que ela está do ponto original e também para termos ideia de quanto de água tinha que ter sobre nossas cabeças" diz Silva. Se a represa estivesse cheia, os amigos estariam todos cobertos pela água.

Um dos amigos, o motorista José Antônio de Souza, 53, classifica a situação como "um luto". Ele conta que, no passado, sempre havia famílias brincando na água com boias e moto aquáticas. "Hoje, só estamos nós", diz ele.

Assim como os companheiros, saiu cedo de São Paulo levando sunga e vara de pescar, imaginando que, por causa das chuvas do começo do ano, a situação estaria mais parecida com a da década de 1970.

Não estava: a represa tinha 15,5% do volume total, sem grande variação em relação aos outros dias de junho.


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