Folha de S. Paulo


Colégio no PI vive rotina de luto e medo após estupro coletivo de jovens

Choro na sala de aula, medo de sair sozinho e até mesmo de ir à escola.

Desde que quatro garotas de Castelo do Piauí (a 184 km de Teresina) foram vítimas de um estupro coletivo, o clima entre os jovens da cidade é de medo e de insegurança.

O crime ocorreu no dia 27 de maio. Elas foram atacadas e jogadas de um penhasco nos arredores da cidade quando faziam fotos para um trabalho da escola.

Na Unidade Escolar Francisco Sales Martins, onde estudavam, o luto vai muito além dos dizeres da faixa pendurada na entrada.

Com a morte de Danyelle Feitosa, 16, no último domingo (7), a rotina escolar mudou. Os alunos do 3º A, onde estudavam Dany e as amigas, R., 17, e I., 16, pediram para mudar de sala. Saíram da de número 8 e foram para a 5.

"O clima estava muito pesado", relata um colega. J., 15, estuda no primeiro ano, e o clima de consternação se repete na sala dela.

Na classe de Dany, nos últimos dias, muitas meninas se emocionaram na hora da chamada ao ouvirem os nomes das amigas. Na pequena Castelo, com pouco mais de 18 mil habitantes, muitos se conhecem desde a infância.

"A Dany era muito popular, muito inteligente e sempre disposta a ajudar. Todo mundo gostava dela", conta uma colega de classe.

A professora de língua portuguesa Vania de Oliveira confirma: "Aluna excelente, anotava até o que a gente falava informalmente."

Com lágrimas nos olhos, a diretora da escola, Lucineide Silva, diz que se pergunta diariamente se a tragédia aconteceu de fato. "Acordo pensando: será que é verdade? Não é pesadelo?", diz.

R. continua internada em Teresina. Assim como a amiga, sofreu traumatismo craniano e perda de massa encefálica, mas não corre risco de morte, segundo os médicos. J. e I. já tiveram alta, mas não voltaram para Castelo. Estão com parentes em Teresina.

TRAUMA

Lucineide diz que espera ajuda de psicólogos para elaborar o luto coletivo, com pais e alunos. Mas, por enquanto, a ajuda não apareceu.

A escola, com 824 alunos, é referência na região. Nos últimos anos, foi duas vezes finalista da olimpíada nacional de língua portuguesa.

Desde a barbárie, várias alunas faltam à aula. "Os pais ligam preocupados, mas a gente nem sabe o que dizer."

Aos menos quatro estudantes pediram transferência do período noturno para o diurno. As que continuam à noite querem sair mais cedo. "Alguns pais estão vindo buscar os filhos a noite, coisa que nunca aconteceu."

Alunos se queixam de que não conseguem se concentrar. "Tenho dormido mal. Pesadelos quase todas as noites de que estou sendo atacada", conta uma jovem.

Vania diz que provas foram substituídas por trabalhos para não sobrecarregá-los.

O caso está sob segredo de Justiça. Quatro jovens, de 15 a 17 anos, foram apreendidos e um homem, de 40 anos, foi preso. Os cinco são suspeitos de envolvimento no crime.


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