Folha de S. Paulo


Com 18 BOs em 1 ano, garoto suspeito de estupro usa droga desde os 8

Ele começou a usar drogas aos oito anos. Aos nove, pequenos furtos dentro de casa. Aos dez, furtava vizinhos. A partir dos 13, dependente do crack, passou a assaltar armado com faca ou facão.

Aos 15 anos, I.V.I. é considerado pela polícia como um dos autores do estupro coletivo de quatro adolescentes em Castelo do Piauí.

Os policiais da pequena cidade de 18 mil habitantes estimam que, nos últimos sete anos, ele já tenha passado mais de cem vezes pela delegacia por furtos e roubos, que vão de celulares a motos.

A Folha localizou 18 boletins de ocorrência nos últimos 12 meses em que I. aparece como suspeito de crimes. Só em abril, foram quatro acusações. O delegado Laércio Evangelista pediu, sem sucesso, a internação provisória do garoto em uma unidade para menores infratores em Teresina, a 184 km de Castelo. O ofício é de 7 de maio —20 antes do estupro coletivo. Danyelle Feitosa, 16, vítima, morreu no último domingo.

"Ele já tinha sido internado duas vezes, mas saía roubando de novo. Saiu pior do que entrou" afirma Evangelista, defensor da diminuição da maioridade penal.

O promotor Cesario Cavalcante diz que tentava a internação de I. horas antes de o crime ocorrer, mas que esse pedido dependia de laudo médico que comprovasse o vício do jovem e o acompanhamento de um responsável durante o tratamento.

Branco, de olhos e cabelos claros, I. já enfrentou com uma faca um policial que tentava apreendê-lo depois de um flagrante de roubo.

O aposentado Manoel, 63, pai de I., afirma que o filho "não é coisa boa". Segundo ele, o garoto era um "menino bom" até os oito anos.

"Começou a andar com más companhias e deu no que deu. Não sei de onde vem tanta perversidade. Ele não tem medo de nada, não se arrepende de nada."

Manoel conta que o filho "leva tudo o que tem na casa". "Já foi TV, celulares da mãe, relógio, batedeira. Durmo com o dinheirinho que sobra no bolso. Ainda assim ele espera eu dormir para pegar o dinheiro", afirma.

A família sobrevive com R$ 1.300, entre a aposentadoria de Manoel e a Bolsa Família. Além de I., ele e a mulher, Patrícia, 38, têm mais três filhos —de 16, 4 e 2 anos.

Manoel toma remédios antipsicóticos há 20 anos —sem eles, diz, não dorme e tem surtos. I. estudou até a terceira série do ensino fundamental. Mal sabe assinar o nome.

HISTÓRICO

O histórico de miséria e transtornos mentais se repete nas famílias de outros menores suspeitos do crime. Mas nenhum deles tem a ficha policial tão extensa. Eventualmente, alguns apontados como autores de pequenos furtos ou uso de drogas.

Grávida de quatro meses, Elisabeth, mãe de G.V.S, diz que o filho começou a se envolver com drogas aos 13.

B.F.O., 15, parece uma criança de dez anos. Parou de estudar na quinta série do ensino fundamental, quando começou a se envolver com drogas, segundo o pai, Joé, vendedor de peixes e galinha.
A mãe toma três diferentes tipos de antidepressivos.

J.R.S., 16, também havia abandonado a escola —e tem histórico de uso de crack e cachaça.


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