Folha de S. Paulo


Polícia usa bombas para dispersar grupo no final da Parada Gay de SP

Policiais militares usaram bombas de efeito moral, no início da noite deste domingo (7), para dispersar um grupo de pessoas no final da Parada Gay. Segundo a PM, elas teriam jogado garrafas contra os policiais, na rua da Consolação, altura da Caio Prado.

Ao menos duas bombas de efeito moral foram disparadas após as garrafas ferirem duas pessoas, informou a polícia. "Foi só pra dispersão e controle. Fica complicado quando os caras bebem", disse o capitão Fernando do comando de área do centro.

As bombas chegaram a ser ouvidas no Copan, na avenida Ipiranga. Com isso, houve correria no local. Não há, no entanto, registro de pessoas feridas em decorrência do tumulto.

Fernando Quaresma, presidente da associação que organiza a Parada, lamentou o tumulto e diz que é sempre preferível o diálogo. Ele ressaltou que nenhum ocorrência mais grave foi registrada durante o evento.

Por volta das 19h, a avenida Paulista já estava totalmente liberada e a rua da Consolação tinha o tráfego liberado nos dois sentidos da Paulista até a rua Caio Prado. O restante continuava fechado, assim como parte da avenida Ipiranga.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), as vias começaram a ser liberadas às 16h. Um dos coordenadores da equipe responsável pela estrutura montada na Paulista, que não quis se identificar, afirmou que a liberação começou mais cedo que o esperado. Ele conta que trabalha há dez anos na Parada e que a atual foi a mais vazia.

Quaresma, no entanto, disse que o evento não acabou mais cedo em relação aos outros anos. "O último trio chegou no fim da Consolação as 17h40", diz, ressaltando que o horário marcado para a liberação as vias era 18h. "Amanhã é segunda as pessoas trabalham e é preciso limpar a avenida ", diz ele, que nega que a multa em caso de atraso tenha acelerado a Parada.

A PM informou que, por enquanto, não divulgará estimativa de público no evento. O mesmo foi informado pelos organizadores, que aguardam a divulgação dos números da polícia. O único dado divulgado pela corporação foi de 1.500 pessoas, por volta das 9h, ainda na concentração.

CONFUSÃO

Uma briga chegou a provocar correria, por volta das 15h30, no final da rua da Consolação. Os dois rapazes foram separados por policiais militares e precisaram receber atendimento dos bombeiros. Um dos envolvidos na briga disse à polícia que bateu no outro porque ele estava passando a mão nas garotas.

Houve um outro tumulto na retirada das atrizes da série 'Orange is the New Black' do trio elétrico. Natasha Lyonne, Uzo Aduba e Samira Wiley estavam escoltadas por seguranças e uma mulher chegou a ser jogada ao chão durante a confusão. Não houve registro de feridos.

COBRANÇAS

A 19ª Parada do Orgulho LGBT teve parte dos ativistas cobrando o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sobre a atuação pública contra a homofobia e a favor dos direitos desse grupos.

Durante os discursos e em entrevista coletiva de imprensa, que contava com autoridades do governo, da prefeitura e de movimentos ligados à causa gay, ativistas levantaram cartazes em protesto ao tratamento dado pela polícia à travesti Verônica Bolina, 25, espancada quando estava presa em abril deste ano no 2º DP (Bom Retiro), no centro de São Paulo. De acordo com os manifestantes, faltou ação e esclarecimentos por parte do governo paulista.

O secretário da Segurança Pública do governo Alckmin, Alexandre de Moraes, disse haver um terceiro laudo de investigação em curso para tentar esclarecer esse caso.

Ativistas também questionaram a redução de verbas da prefeitura para a realização da parada neste ano. Em meio a restrições financeiras, a gestão Haddad, que previa investir R$ 2 milhões no evento, reduziu a quantia para R$ 1,3 milhão.

"Queremos o diálogo, e não o enfrentamento", disse Nelson Matias, da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que cobrou o prefeito diretamente sobre a diminuição dos recursos.

"A Prefeitura de São Paulo, sem sombra de dúvida, é a que mais apoia o movimento no Brasil. A parada do Rio tem a mesma escala que a nossa, independente do número exato de participação, e foram rateados R$ 800 mil por parte do governo e prefeitura cariocas. Aqui, só a prefeitura cotou R$ 1,3 milhões", disse Haddad.

Na última semana, Alessandro Melchior, coordenador de Políticas para LGBT da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, disse que os cortes estão em consonância com ajustes feitos pela prefeitura em outras áreas. O orçamento previsto para políticas LGBT em geral, em 2015, era de cerca de R$ 8 milhões, mas a Câmara dos Vereadores aprovou R$ 3,4 milhões –57,5% a menos.

Nos trios, que em sua maioria, vinham faixas contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), discursaram, antes da parada entrar em movimento, a senadora Marta Suplicy, o secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, e o deputado Estadual Carlos Giannazi.

"O tema desse ano [eu nasci assim, eu cresci assim...] é muito verdadeiro. Ninguém diz: 'quarta-feira vou virar homossexual'. No Congresso nós temos um momento difícil, que está muito conservador. Na discussão do código penal foi retirada a palavra homofobia. Nós não podemos ignorar isso. Esse crime precisa ser penalizado de outra forma", disse Marta (sem partido).


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