Folha de S. Paulo


Prédios da gestão Alckmin extrapolam meta e viram 'gastões' de água em SP

Três prédios centrais da administração do governo Geraldo Alckmin (PSDB) extrapolaram de forma recorrente a sua meta de consumo de água nos últimos 12 meses e se tornaram o que o governador chama de "gastões".

O aumento na conta da água ocorre justamente durante a maior crise de abastecimento do Estado de São Paulo, o que resultou em uma política que deixa milhares de pessoas com torneiras secas durante horas, além de instituir sobretaxas para quem não economiza água.

Os prédios que aumentaram o consumo são os maiores da administração estadual. Eles abrigam as sedes das secretarias da Habitação, do Emprego, dos Transportes Metropolitanos, da Subsecretaria de Assuntos Metropolitanos, do Metrô, da CPTM, da CDHU, da Defensoria Pública, do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e um gabinete do próprio governador Geraldo Alckmin.

O conjunto de prédios é administrado pela Companhia Paulista de Serviços e Obras, vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de São Paulo.

Editoria de Arte/Folhapress

SISTEMA CANTAREIRA

Os "gastões" do governo estadual ficam na rua Boa Vista, no centro de São Paulo, área que é atendida pelo sistema Cantareira.

O conjunto de represas, que está no volume morto, estava neste domingo com apenas 15,1% de sua capacidade total.

A Folha teve acesso ao relatório de consumo de água de três prédios do Cidade (Centro Integrado de Administração do Estado de São Paulo), ao longo de 12 meses entre 2014 e 2015.

Nesses 12 meses, o Cidade 1 (o maior dos prédios e onde há um gabinete do governador) extrapolou a meta de economia em seis meses.

Em janeiro de 2015, em um dos dois hidrômetros do prédio, foi constatado o consumo de 1,7 milhão de litros. O índice supera em 19% a meta -que é de 1,4 milhão de litros.

Em abril, o mesmo prédio voltou a extrapolar a meta de economia, gastando 16% além do que deveria.

Nesse mês, no entanto, o governo do Estado já tinha instituído a sobretaxa que pune quem desperdiça água com uma conta mais cara.

Foi por isso que, no mês seguinte, a conta do prédio veio mais alta. Segundo as regras da Sabesp, o excesso daquele mês deveria ser punido com uma taxa de 40% sobre o valor da conta de água.

Já o Cidade 2 (que reúne a sede do Metrô e da Secretaria dos Transportes Metropolitanos) extrapolou a meta durante de 9 meses. Em dois dos meses, o aumento é de 83% além da meta, o que deveria render uma sobretaxa de 100% sobre a conta de água.

Enquanto isso, o Cidade 4 ultrapassou a meta estabelecida em todos os meses. Esse, no entanto, foi ó único caso em que o governo de SP justificou o aumento de consumo. Nos outros dois prédios, o governo classificou o aumento de gastos como injustificável.

Na prática, os três prédios estão entre os 18% dos consumidores da Sabesp que continuam aumentando o consumo de água.

São esses a quem o governador Geraldo Alckmin chama de "gastões". Em dezembro de 2014, ele disse: "Nós temos 20% de chamados gastões (...) e nós não podemos abrir mão de ninguém. Todo mundo precisa ajudar".

Outro crítico dos "gastões" é o presidente da Sabesp, Jerson Kelman que, em seu discurso de posse no cargo em janeiro deste ano, disse que a empresa deveria fazer um trabalho de convencimento muito próximo junto aos consumidores que continuavam a aumentar o consumo.

"Por que um consumidor aumenta o consumo [de água]? Pode ser porque ele não está preocupado questões financeiras ou econômicas, se paga ou não paga bônus. Tem alto poder aquisitivo, não muda os seus hábitos e até piora, usa mais", disse ele.


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