Folha de S. Paulo


Mafioso italiano foi sócio de boate de strip e pedia cachaça em bar em PE

Num bar que frequentava no bairro do Sancho, na periferia do Recife, Pasquale Scotti, 56, apontado pela polícia italiana como um dos mafiosos foragidos mais procurados do país, sempre chegava sozinho, falava pouco e costumava pedir uma dose de cachaça.

"Ele era muito na dele. Fiquei impressionada quando descobri. Hoje em dia não dá pra confiar em mais ninguém", diz a comerciante Danielle Ordonio, surpresa ao descobrir que "Chico", como todos se referiam a ele no bar, era um mafioso italiano com a falsa identidade de Francisco de Castro Visconti.

Apontado pela polícia italiana como um dos mafiosos foragidos mais procurados do país, Scotti morava no Sancho, bairro de classe média baixa em Recife, com a mulher e dois filhos. O italiano chegou pouco antes das 9h desta quarta-feira (27) ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, de onde foi levado para a carceragem da Polícia Federal.

Policia Federal/Efe
Pasquale Scotti, em prédio da Polícia Federal no Recife, após ser preso nesta terça (26)
Pasquale Scotti, em prédio da Polícia Federal no Recife, após ser preso nesta terça (26)

Ele chegou ao Brasil por volta de 1986, usava documentos falsos adquiridos com um homem em Fortaleza (CE) e disse à PF que "vagou por vários Estados" até virar empresário.

Durante quatro meses, no fim dos anos 1990, Scotti foi sócio da boate Sampa Night Club, onde acontecem shows de strip-tease em Boa Viagem, zona sul do Recife. O sócio majoritário era outro italiano, pai do atual proprietário e que morreu em 2014.

"Francisco" cuidava de compras e contas da casa noturna. Após um desentendimento com o parceiro comercial, Scotti deixou a boate e virou sócio de uma exportadora de alimentos enlatados, que faliu meses depois.

ACUSAÇÕES

Segundo as autoridades italianas informaram ao Brasil, Scotti foi o chefe do "braço militar" de um grupo mafioso denominado Nova Camorra Organizada, de Nápoles, e que tinha como líder principal Raffaele Cutolo, que cumpre prisão perpétua.

Scotti chegou a ser preso na Itália em 1984, mas escapou no mesmo ano do hospital em que estava custodiado, em Casoria. Desde então não foi mais visto e, segundo a PF, chegou a ser dado como morto por ex-mafiosos.

A Itália atribui a Scotti a participação em um total de 26 assassinatos na Itália entre 1980 e 1983, além de extorsão, porte ilegal de armas e resistência.

Scotti foi levado à sede da Superintendência da PF no Recife. A PF já pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) sua transferência para um presídio de segurança máxima. O governo italiano tem prazo de 90 dias para pedir ao Supremo a extradição de Scotti.

Após a notícia da prisão de Scotti, autoridades da Itália, como o ministro do interior Angelino Alfano, comemoraram na imprensa italiana a detenção do mafioso. "Um tiro surpreendente marcado por nossa equipe italiana junto com a valiosa cooperação da polícia do Brasil. A caça aos fugitivos ultrapassa à fronteira do nosso país", disse.

Editoria de Arte/Folhapress

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