Folha de S. Paulo


Mafioso italiano diz à PF que 'vagou por vários Estados' e virou empresário

Em depoimento prestado à Polícia Federal, Pasquale Scotti, 56, apontado pela polícia italiana como um dos mafiosos foragidos mais procurados do país, afirmou que chegou ao Brasil por volta de 1986, adquiriu documentos falsos de um homem em Fortaleza (CE) e "vagou por vários Estados" até virar empresário.

Preso na manhã desta terça (26), ele contou que, em 1995 ou 1996, conheceu outro italiano no Recife (PE), Roberto Pagnini, "um empresário aposentado que estava passeando no Brasil na condição de turista". Com ele abriu uma firma de importação de alimentos. Eles também passaram a administrar uma boate na cidade, a Sampa Night Club.

O atual dono da boate, Francisco Pagnini, disse à Folha que seu pai, Roberto, morreu de diabetes no ano passado, e conheceu Scotti "há 15 anos". Ele não sabia do passado como camorrista. Segundo Pagnini, Scotti dizia ter nascido no Brasil.

"Era uma pessoa muito inteligente, muito fechado, era 'família', não falava mal de ninguém, era muito respeitado e respeitava muito as pessoas. Quando vi a notícia [da prisão], fiquei muito chocado realmente", disse Pagnini.

Em 1999, a sociedade com Pagnini se desfez. Dez anos depois, ele foi trabalhar como gerente de uma empresa de fogos de artifício e shows pirotécnicos.

Scotti reconheceu à PF que, na época em que saiu da Itália, "estava sendo processado criminalmente, mas não havia condenação definitiva" e disse não saber das acusações exatas.

Divulgação
Mafioso italiano Pasquale Scotti foi preso pela Interpol em Recife (PE)
Mafioso italiano Pasquale Scotti foi preso pela Interpol no Recife (PE)

ACUSAÇÕES

Segundo as autoridades italianas informaram ao Brasil, Scotti foi o chefe do "braço militar" de um grupo mafioso denominado Nova Camorra Organizada, de Nápoles, e que tinha como líder principal Raffaele Cutolo, que cumpre prisão perpétua.

Scotti chegou a ser preso na Itália em 1984, mas escapou no mesmo ano do hospital em que estava custodiado, em Casoria. Desde então não foi mais visto e, segundo a PF, chegou a ser dado como morto por ex-mafiosos.

A Itália atribui a Scotti a participação em um total de 26 assassinatos na Itália entre 1980 e 1983, além de extorsão, porte ilegal de armas e resistência.

Scotti foi levado à sede da Superintendência da PF no Recife. A PF já pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) sua transferência para um presídio de segurança máxima. O governo italiano tem prazo de 90 dias para pedir ao Supremo a extradição de Scotti.

Após a notícia da prisão de Scotti, autoridades da Itália, como o ministro do interior Angelino Alfano, comemoraram na imprensa italiana a detenção do mafioso. "Um tiro surpreendente marcado por nossa equipe italiana junto com a valiosa cooperação da polícia do Brasil. A caça aos fugitivos ultrapassa à fronteira do nosso país", disse.


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