Folha de S. Paulo


Prefeitura de SP quer regulamentar o Uber, rival de táxi

Para taxistas, clandestino. Para quem usa, confortável. Para a prefeitura, ilegal e carente de regulação. Para quem dirige, lucrativo. Para investidores, uma ideia de US$ 40 bilhões.

O Uber não é consenso. Desde sua chegada ao Brasil, em junho de 2014, o aplicativo que liga motoristas de veículos de alto padrão a passageiros provoca reações fortes.

O serviço de transporte funciona por meio de um aplicativo no qual passageiro e motorista se cadastram. O primeiro recruta o segundo pelo smartphone, assim como nos aplicativos de táxi.

O funcionamento é parecido, mas não é o de um táxi. A diferença está por trás de uma polêmica que levou a empresa à Justiça e faz o sindicato dos taxistas em São Paulo ameaçar paralisação geral.

Para a prefeitura, a regra é clara: levar passageiros a bordo de um carro e cobrar por isso é atuar como táxi, serviço sob supervisão da administração e que precisa atender a regras, além de pagar taxas. Como carros do Uber não têm nada disso, podem ser apreendidos. Só em 2014 foram 17.

A gestão Fernando Haddad (PT) estuda formas de regularizar a iniciativa. "É algo novo, complexo e tem que ter alguma regulamentação", diz Jilmar Tatto, secretário de Transportes.
No final de abril, o Simtetaxis, que reúne empresas paulistas do setor, entrou com um processo na Justiça contra o Uber. Um juiz concedeu liminar que interrompia o serviço no país, mas dias depois ela foi revogada.

A empresa diz apenas conectar dois interessados, apesar de ganhar 20% do valor das corridas. Pelo menos 1.200 condutores, segundo entidades de taxistas, se cadastraram no serviço em São Paulo. A empresa não divulga dados específicos do Brasil.

ATENDIMENTO

O motorista recebe o passageiro com um sorriso, oferece água e pergunta se a temperatura está boa. Depois, desce para abrir a porta. Tanta simpatia do condutor do Uber tem razão prática: após a viagem, o passageiro o avalia com até cinco estrelas. Se a média ficar abaixo de 4,6, o profissional pode ser advertido e até expulso do serviço. Por outro lado, os motoristas também podem avaliar os passageiros.

Apesar das exigências, profissionais do Uber dizem que o negócio é vantajoso. "Trabalhando dez horas por dia, dá pra tirar R$ 2.000 por semana", diz David (que pediu para não ser identificado), há sete meses no aplicativo. Naldo Rodrigues, 38, dirige das 19h às 4h um Ford Fusion. À noite não tem bandeira 2, mas faz mais viagens pelo trânsito menor.

Quem também usa o Uber, mas como passageiro, é o estudante Arthur De Nicola, 25. "Vou a festas onde é complicado estacionar e para evitar problemas com a Lei Seca." As tarifas do Uber ignoram limites de cidades e bandeiras e têm lógica própria. Se houver forte demanda em uma região, o preço sobe e pode atingir até 50% a mais.

A atenção no tratamento do pelo Uber surpreendeu a advogada Diana Weiss, 30. O preço também: do Itaim Bibi (zona oeste) a Higienópolis (centro) pagou R$ 82.

"Tomei um susto porque não dá para acompanhar o valor. No táxi gastaria R$ 50. Mas o serviço é excelente." Segundo o taxista Cleyldson Oliveira, 37, que dirige um SUV, para quem quer conforto existe o táxi executivo, que estaria tendo mais concorrência. "O pessoal quer chegar na festa de Uber porque parece motorista particular."

Editoria de Arte/Folhapress

MUNDO

O Uber atua em 54 países e em boa parte deles houve protestos contra seu funcionamento. Em Paris, ele foi multado em 1 milhão de euros e é investigado por oferecer translados que custam a partir de 1 euro (R$ 3,43).

Na Alemanha, Portugal e na Espanha, o serviço sofreu restrições na Justiça, mas opera em algumas categorias. Na Índia, a suspensão ocorreu após uma passageira dizer ter sido estuprada por um motorista em dezembro. O serviço foi liberado pouco depois, mas decisão da Justiça determinou novo bloqueio.


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