Folha de S. Paulo


Movimento sem-teto espera novo Minha Casa para ampliar moradias

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Minutos depois de falar, às 2h da manhã, de cima de um carro abandonado aos novos ocupantes da área invadida em Itapecerica da Serra, o líder o MTST, Guilherme Boulos, contempla um vale que dá para a Nova Palestina, outro acampamento do movimento e o maior do Brasil.

No entorno das invasões, centenas de casas erguidas de qualquer jeito ao longo de décadas. "É isso o que teremos sem a ampliação do Minha Casa Minha Vida", diz.

O MTST tem hoje cerca de 6.000 pessoas acampadas e outras 15 mil aguardando verbas para a construção de novas habitações. Nos últimos seis anos, o movimento entregou apenas 500 unidades pelo MCMV Entidades, que atende movimentos sociais.

Além de pedir para que não fossem acendidas fogueiras no local nem que se montassem barracas no campo de futebol no terreno, Boulos acabara de dar, com muita ênfase, a esperança de um lar a mais de 800 pessoas.

A grande maioria trabalhadora e que gasta mais da metade da sua renda com aluguéis ou que mora de favor. Caso de Luciano Lopes, 38, que arrastava pelo acampamento uma cama de campanha para dormir no seu novo barraco. Confeiteiro desempregado, levanta cerca de R$ 700 por mês com bicos de eletricista. Mas gasta R$ 550 de aluguel para viver com a mulher e os três filhos.

Ou de Isabel Paribel, 57, invasora de primeira viagem junto com o filho. Dos R$ 920 da pensão por morte do marido, R$ 450 vão no aluguel. Entre todos, a reclamação com a falta da casa própria.

A Grande São Paulo tem um deficit habitacional de 672 mil moradias, praticamente inteiro na faixa de renda de zero a dois salários mínimos. A demanda anual desse pessoal é de 39 mil novas casas.

Em seis anos, o MCMV entregou em toda a região só 50 mil unidades em sua faixa 1, que atende a essa população, segundo dados do Secovi-SP. Nessa faixa, largamente subsidiada, o beneficiário compromete no máximo 5% de sua renda mensal, com prestação mínima de R$ 25.

A pressão do movimento sem-teto para que o governo Dilma deslanche o MCMV 3 é questão de sobrevivência para os acampados e para o movimento de Boulos.

Na semana passada, líderes dos sem-teto estiveram em Brasília, em reunião com os ministérios das Cidades e do Planejamento. No fim de semana, teve início a nova "jornada" de invasões, que promete outras ações adiante.

Além de querer ver cumprida a meta de 3 milhões de novas contratações de casas pelo governo até 2018, o MTST pressiona para seja ampliada de 2% para 20% a participação do MCMV Entidades.

Perderiam espaço, portanto, as construtoras que contratam unidades habitacionais diretamente com o governo federal. E que respondem pela grande maioria dos apartamentos entregues.

Hoje, elas recebem o valor máximo de R$ 76 mil por unidades de, no mínimo, 39,65 m2. Nas 500 habitações entregues pelo MTST em São Paulo, o mesmo valor foi usado em apartamentos de três quartos, com 63 m2 cada um.


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