Folha de S. Paulo


Contra dengue, país testa alerta de epidemia e armadilha de mosquito

Epidemias de dengue –como a que atinge em 2015 uma a cada quatro cidades brasileiras– poderão ser previstas com antecedência. Já em lugares com alta infestação do mosquito, telas repletas de inseticida e "armadilhas" são testadas como proteção. Se nada der jeito, uma bactéria é a promessa para tornar o Aedes aegypti imune ao vírus.

Em meio a críticas de falta de preparo do poder público, o avanço da dengue neste ano deu novo impulso para pesquisas em busca de alternativas para evitar a doença.

Em pouco mais de quatro meses, os casos de dengue no Brasil já atingiram 746 mil, alta de 234% em relação ao mesmo período de 2014.

Editoria de Arte/Folhapress

É o próprio Ministério da Saúde que conduz um dos projetos mais recentes: um sistema que detecta sinais e dá um alarme para epidemia. Ele será testado a partir de julho em dez municípios.

A ideia é, a partir de dados de variações climáticas (como temperatura) e de novos casos da dengue, cruzar informações em um banco de dados com histórico de epidemias e indicar a possibilidade de avanço da doença.

"Se os indicadores passarem de determinado limite de segurança, o plano de contingência é imediatamente acionado", diz Giovanini Coelho, coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue.

Os dados serão monitorados por 18 meses e comparados com outras dez cidades sem esse sistema –que também é testado em outros quatro países, por meio da Organização Mundial de Saúde.

Outras alternativas são testadas para amenizar os danos. Em Goiânia e Belo Horizonte, equipes municipais e do ministério começaram a instalar, em portas e janelas, telas impregnadas com inseticidas, criando uma barreira física contra o mosquito.

Ao todo, 15 mil casas, escolas e unidades de saúde de bairros infestados devem receber o suporte e serão monitorados a cada seis meses.

No caso de pesquisadores da Fiocruz em Recife, uma opção contra a dengue surgiu por acaso, quando testavam uma armadilha contra mosquitos Culex, o pernilongo. "Para nossa surpresa, captou também o Aedes", diz a pesquisadora Morgana Xavier, que hoje testa nova armadilha adaptada para o da dengue.

Trata-se de uma caixa preta que, com uma cola, segura parte dos mosquitos. Já os que entram encontram uma solução que mata as larvas. Ao todo, 175 caixas foram espalhadas em um bairro com alta infestação e, em duas verificações, foram coletados 800 mosquitos e 70 mil ovos.

Também ganharam impulso projetos em curso como o de uma pesquisa da Fiocruz no Rio. Após liberar mosquitos com a bactéria Wolbachia, que impede a transmissão da doença, o monitoramento mostrou que 65% deles já estão "vacinados" contra a dengue por lá.


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