Folha de S. Paulo


Rio tem sete ônibus incendiados em menos de 24 horas

Dois ônibus foram incendiados na manhã desta sexta-feira (15) na região central do Rio. Os incêndios ocorreram durante protesto pela morte de dois moradores do Morro de São Carlos, que fica nessa região.

Em menos de 24 horas, sete ônibus foram incendiados. Um dos coletivos foi na avenida Salvador de Sá, no Estácio, zona norte do Rio. Já o segundo, foi no bairro de Rio Comprido.

Há uma semana, as favelas da região central do Rio protagonizam uma das maiores disputas por território entre traficantes desde a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) na região, em 2011.

A polícia informou que desde então dez mortes foram contabilizadas na disputa entre as quadrilhas que atuam nessa região, que abrange nove favelas em três bairros. O local fica perto do sambódromo, da prefeitura, e da sede do Comitê Organizador da Olimpíada de 2016.

Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia
Moradores incendeiam ônibus próximo ao Morro de São Carlos, região central do Rio
Moradores incendeiam ônibus próximo ao Morro de São Carlos, região central do Rio

ÔNIBUS QUEIMADOS

Pelo menos sete ônibus já foram incendiados no Rio e nos municípios da região metropolitana em menos de 24 horas. Na noite da última quinta (14), cinco foram queimados após uma operação da Polícia Militar, na comunidade do Guandu, em Japeri, na Baixada Fluminense.

De acordo com testemunhas, criminosos teriam parado os veículos na avenida Tancredo Neves, obrigando os motoristas a pagarem uma espécie de pedágio para passarem na localidade. Após a recusa, os suspeitos teriam ordenado que os passageiros descessem e atearam fogo nos veículos.

FAMÍLIA

A família de Ramon Moura de Oliveira, 22, mototaxista encontrado morto num matagal do morro do São Carlos afirmou hoje que o jovem não tinha envolvimento com o tráfico e que acredita que ele tenha sido assassinado pela polícia.

O corpo de Ramon foi encontrado junto com o de Rodrigo Lourenço, 29, que também era mototaxista, na região do Terreiro Grande, no topo do morro.

Após a constatação dessas mortes, manifestantes fizeram um protesto onde foram incendiados dois ônibus.

Ainda não se sabe se há relação entre as ocorrências na Baixada e no centro. O Largo do Estácio está fechado nos dois sentidos desde as 9h.

A companheira de Ramon, a manicure Michele Souza Ramos, 25, com quem ele tinha um filho de três anos, diz que começou a estranhar sua ausência ainda no meio da tarde.

"Ele era muito grudento. Quando percebi que ele não me ligava havia algumas horas, procurei a família dele. Disseram que não tiveram notícias. Aí desci para o ponto dos mototaxistas para perguntar por ele. Fiquei lá esperando até as 4h. Quando percebi que ele não ia voltar, fui para casa. Às 8h, um amigo me ligou dizendo que achava que era o Ramon lá no mato. Fui até lá e vi que era mesmo", diz Michele.

Segundo Michele e a irmã de Ramon, Samantha Moura de Oliveira, 19, moradores que vivem perto do local onde ocorreram as execuções relataram ter visto Ramon e Rodrigo sendo abordados por policiais por volta das 20h na região do Terreiro Grande.

Michele disse que Ramon reclamava com frequência de abordagens violentas por parte da polícia.


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