Folha de S. Paulo


Promessa eleitoral contra crime em SP emperra, e Alckmin recorre à PM

Bandeira de campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), reeleito no ano passado, a tecnologia importada de Nova York e anunciada como principal aposta da polícia paulista para melhorar a segurança pública em São Paulo atrasou e continua sem funcionar com as funções prometidas.

Na eleição, em meio à escalada de roubos, a promessa do governo era que, no final de 2014, esse sistema, batizado de Detecta, estaria em funcionamento pleno, com a integração de bancos de dados da polícia e câmeras de ruas e estradas para identificar atitudes suspeitas em tempo real.

Seria capaz, por exemplo, de alertar a PM automaticamente quando um homem de capacete entrasse numa loja.

Na prática, porém, a gestão Alckmin diz que a tecnologia continua "em testes" –mesma informação dada em setembro, ao ser questionada sobre a inoperância do sistema exaltado na campanha como aquilo que "existe de mais avançado em segurança".

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RADAR

O Detecta, da Microsoft, custou R$ 9,7 milhões aos cofres do Estado. Agora, porém, as primeiras operações oficialmente creditadas ao sistema virão de outro programa, que já existe há um ano. Trata-se do Projeto Radar, desenvolvido pelo Centro de Processamento de Dados da PM quase sem custos ao Estado.

O Radar pode identificar, por meio de câmeras, placas de carros com queixa de roubo ou furto –função prevista também para o Detecta. De maio de 2014 a fevereiro deste ano, o Radar levou a polícia a abordar 277 veículos e a prender em flagrante 396 pessoas.

Mas é mais simples que o sistema de Nova York –que promete identificar atitudes suspeitas no Brasil, apesar de elas diferirem das americanas.

O Radar está funcionando em cidades da Grande SP e do interior e em rodovias estaduais, em parceria com prefeituras e concessionárias.

Em até três segundos, diz a PM, envia automaticamente um alerta para os carros da polícia mais próximos.

Questionada sobre a situação do Detecta, a gestão Alckmin não deu entrevista e passou dados relativos ao Radar.

PMs registraram essa tecnologia no Instituto Nacional de Propriedade Industrial em nome da corporação. Segundo a Folha apurou, a intenção é evitar que ela seja apropriada para execução do Detecta.

O tipo de registro impede que a tecnologia seja compartilhada com empresas privadas, como a Microsoft.

Em dezembro, a Secretaria da Segurança e a CET elaboraram a minuta de uma parceria para permitir a implantação do Radar nas ruas da capital, usando as câmeras da empresa municipal.

Após três meses na secretaria, a minuta voltou para a CET, segundo a assessoria da companhia, para a inclusão do nome do novo titular da Segurança, Alexandre de Moraes. O Radar ainda não foi implantado na capital.

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OUTRO LADO

A Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou, por meio de nota, que o Detecta está "em testes" e que sua implantação ocorre em ritmo acelerado "dentro do cronograma estabelecido a partir da necessidade de várias adaptações para as funcionalidades exigidas".

Ainda de acordo com a secretaria, o sistema já foi totalmente traduzido para o português e adaptado para as informações utilizadas pelas polícias de São Paulo.

"Atualmente, estamos em fase de implantação do uso operacional do sistema [Detecta], com a implantação do sistema Radar de leitores de placas e integração de câmeras da capital", afirmou.

Na quarta-feira (6), a Folha solicitou mais informações sobre a incorporação do Projeto Radar ao Detecta. Até a noite desta quinta-feira (7), a Secretaria da Segurança Pública não havia respondido.

Contratada para a instalação do Detecta em São Paulo, a multinacional Microsoft afirmou, em nota, "que cumpriu integralmente o que estava estabelecido no escopo do contrato". A empresa não detalhou, no entanto, em que pé está o sistema.

Embora apresentando dados relativos ao Radar, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que existem "372 leitores de placas integrados ao Detecta", em municípios como Guarulhos e Santos, além de rodovias de SP.

Conforme apresentado pelo governo no ano passado, o Detecta não se restringiria a leituras de placas –como faz o Radar. Uma das principais funções previstas seria identificar, por meio de câmeras, comportamentos suspeitos e emitir alarmes automáticos a policiais militares nas ruas.

Outra função seria dar ao PM, durante o atendimento de uma ocorrência, dados sobre o histórico criminal da área.


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