Folha de S. Paulo


Com 2.552 casos neste ano, doença 'prima' da dengue avança no Brasil

Para Maria Jussara Oliveira, 50, o dia 4 de setembro virou uma data "inesquecível", mas não por uma boa notícia. "Fui dormir e, quando acordei, já não conseguia me levantar direito. Doía tudo."

A explicação levou quase 60 dias para aparecer. Mas tinha nome: era febre chikungunya, doença conhecida como "prima" da dengue por ser transmitida pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti.

Antes tida como nova preocupação do verão, a chikungunya acabou ficando em segundo plano devido ao avanço da dengue. Mas a doença que chegou ao Brasil em setembro continua a crescer.

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Ao todo, cinco Estados têm registro de pacientes que contraíram o vírus dentro do país. São eles Amapá e Bahia, principalmente, e Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Roraima. Também há casos em investigação em
Minas Gerais.

Outras 11 unidades da federação têm casos importados, de pessoas que foram infectadas no exterior.

Em todo o país, dados do Ministério da Saúde apontam 6.209 casos autóctones desde o início da transmissão –2.552 neste ano. O número real, porém, é provavelmente muito maior, pois há demora na notificação dos Estados para o governo federal.

Editoria de Arte/Folhapress

Só na Bahia, a secretaria de Saúde informa 5.935 notificações desde setembro de 2014. Em 2015, já são 3.397.

E, se no início a chikungunya estava concentrada em poucos bairros de Feira de Santana, uma das cidades com mais casos, agora ao menos 76 apresentam registros.

"Isso nos preocupa, porque a dengue é um caminho para a chikungunya", diz Denise Mascarenhas, secretária municipal de Saúde.

Situação semelhante é vista em Oiapoque, no Amapá, com ao menos 886 casos confirmados, de acordo com o governo estadual.

VÍRUS IMPORTADO

A entrada do vírus importado deixa em alerta os 11 Estados do país atingidos, pois há risco de que o mosquito Aedes aegypti entre em contato com a pessoa infectada e, a partir daí, passe a transmitir o chikungunya. Com a explosão da dengue em alguns Estados, como São Paulo, o risco se eleva.

"O fato de já termos no Mato Grosso do Sul deve deixar São Paulo em alerta permanente", diz o infectologista Carlos Magno Fortaleza.

Ele diz que, antes, havia o temor de que a disseminação fosse maior. "É surpreendente não ter avançado em São Paulo". O Estado tem sete casos importados confirmados.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, diz que ainda não é possível prever a evolução da doença, mas que os dados indicam tendência de redução em alguns locais.

SINTOMAS

Embora com sintomas parecidos nos primeiros dias, a chikungunya se difere da dengue por dores nas articulações que podem se estender por meses -ou até anos.

Quase sete meses depois, Maria Jussara ainda toma remédios para driblar a inflamação nos ombros. "Às vezes, não consigo nem me vestir sozinha. É muita dor."


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