Folha de S. Paulo


Temporada de rodeios começa com ações judiciais e morte de peão

Animadas por irem a um rodeio pela primeira vez em sua cidade nos últimos dez anos, as amigas Carla Soares e Andresa Menta foram ao parque Fernando Costa, em Franca (a 400 km de SP), para o RR Rodeo Music. Mas encontraram a arena vazia.

"Foi frustrante ter ido ao rodeio e não conseguir ver nada", afirmou Carla.

Uma decisão judicial impediu a prova naquele dia, num cenário cada vez mais comum em pequenos rodeios, principalmente em São Paulo.

Além de alegar que os touros são vítimas de maus-tratos nas provas, ONGs de proteção animal encontraram uma brecha jurídica contra os rodeios: um decreto de 1995 do ex-governador Mário Covas (1930-2001), que veta eventos do gênero no perímetro urbano das cidades.

Uma onda de ações judiciais está atingindo a temporada de rodeios deste ano, iniciada no último mês com a morte de um peão, pisoteado por um touro.

A brecha foi descoberta pela ONG Amor de Bicho Não Tem Preço, de Campinas, que conseguiu barrar o rodeio em Hortolândia (a 109 km de SP) e tem representações no Ministério Público envolvendo festas em outras cidades.

"Propagamos o decreto porque rodeio não é cultura, é tortura. Um evento que dá choque e amarra os testículos dos bois para pularem não é saudável. Ainda não pegamos os grandes [rodeios], mas vamos comendo pelas beiradas", disse Cláudia de Carli, presidente da ONG.

Foi com base no decreto que o Nuance (Núcleo Ambiental Ecos da Natureza) foi à Justiça em Franca para barrar o evento Ða prova foi liberada em segunda instância e teve a duração encurtada.

'BEM TRATADOS'

"Os animais são mais bem tratados do que nós. As ONGs deveriam se preocupar com cavalos que estão na rua carregando excesso de peso ou com cães abandonados", diz Ricardo Campanaro, organizador do RR Rodeo Music.

A maioria dos rodeios ocorre de abril a setembro, tendo como auge a Festa do Peão de Barretos, em agosto, que completa 60 anos em 2015.

Os 2.000 rodeios do país movimentam R$ 10 bilhões e empregam cerca de 100 mil pessoas, segundo o setor.

Não é só em São Paulo que esse tipo de evento está ameaçado. Em Rio Verde de Mato Grosso (MS), a Promotoria pediu à prefeitura e aos organizadores que as esporas usadas não sejam pontiagudas e que vetem as montarias Ðo que inviabiliza o rodeioÐ e a prova de bulldog.

Em 2011, um bezerro morreu em Barretos na competição de bulldog. Na prova, o peão tem de imobilizar um bezerro pelo pescoço no menor tempo possível. Após o episódio, Barretos baniu a prova.

MORTE

Além dos problemas jurídicos, foi registrada uma morte nas arenas, em março. O peão Marcos Silva de Souza, 42, foi atingido por um touro em sua montaria, em Capelinha (MG). Ele foi dublê na novela da Globo "América", de 2005, que retratou os rodeios.


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