Folha de S. Paulo


Líder do PSDB diz que Haddad negocia com 'submundo' na cracolândia

O vereador Andrea Matarazzo, líder do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo, afirmou nesta sexta-feira (1°) que o prefeito Fernando Haddad (PT) é irresponsável e coloca em risco a população ao dialogar com o "submundo em vez de utilizar os instrumentos legais".

"O prefeito é completamente irresponsável. Ele sempre procura os caminhos do submundo em vez de utilizar os instrumentos legais e institucionais. Já não é a primeira vez que acontece isso", disse.

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O tucano também questionou a postura do prefeito que não informou à polícia quem eram os traficantes. "Se ele sabe quem são os traficantes, ele precisa passar para a polícia. Não avisá-la é colocar em risco os voluntários públicos e os dependentes químicos. É uma postura esquisita negociar com o tráfico para fazer desocupação".

Em resposta a Matarazzo, o vereador Paulo Fiorilo, presidente do diretório municipal petista, disse que, antes de criticar ações da prefeitura, os tucanos deveriam "olhar qual a prática desse governo PSDB do Geraldo Alckmin". "Quem tem a prática de negociar com o crime organizado não é o governo Haddad", afirmou.

Também da oposição, o vereador Ricardo Young (PPS) assumiu um tom mais ponderado ao analisar o episódio –que, para ele, não pode ser visto de forma moralista ou oportunista, mas de forma "realista, pragmática e necessária".

"Quem já foi à cracolândia, já viu o fluxo, sabe que existe uma barreira muito pequena entre traficante e usuário. Então, se você vai fazer uma ação num local como esse, evidentemente tem que conversar com todas as partes interessadas, não importa se é usuário, traficante, dono do hotel, guarda. Você precisa preparar uma ação identificando os agentes do território", afirmou.

"Não acho que o prefeito fez acordo com traficante. Acho que ele delineou os riscos no território para poder fazer a ação que fez. Quando eu fui fazer levantamento da eficácia do [programa] Braços Abertos, fui lá falar com as pessoas. Então, porque eu me meti no meio do fluxo como vereador, conversei com traficante e com usuário, significa que eu fiz acordo com o tráfico?", disse.

Durante evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores) nesta sexta em São Paulo, o secretário de Direitos Humanos e Cidadania da gestão Haddad, Eduardo Suplicy, defendeu o prefeito e afirmou que conversaram com todos que exercem liderança na cracolândia, mas que ele próprio não saberia distinguir.

Já o secretário municipal Alexandre Padilha (Relações Governamentais) disse que o prefeito cuida do usuário e que não negocia com traficantes.

"Quem ele [Haddad] acha que engana?", indagou Matarazzo, sobre o comentário do prefeito de que a operação na cracolândia havia sido um sucesso. "O prefeito Haddad vive realmente em outro planeta, nem dá para dizer que ele vive em outra cidade. Só falta essa, negociar com o crime", disse.

OPERAÇÃO

Assessores de Haddad conversaram com traficantes identificados com líderes na cracolândia, no centro de São Paulo, antes de realizar uma operação para remover barracas de usuários de drogas na última quarta-feira (29).

O intuito era evitar violência. Mas, na desocupação, outros traficantes assumiram o papel de interlocutores terminando em confronto entre usuários de drogas e policiais.

Temendo descontrole, a prefeitura acionou a PM. Ocorria na região operação policial simultânea do governo estadual, não articulada com o município. Houve confronto, correria e feridos.

Indagado sobre a ação, Haddad não citou contato de auxiliares com traficantes. Disse, porém, que havia negociado com os usuários de crack, há pelo menos três semanas, sobre como seria a ação. No dia seguinte ao tumulto, a polícia fez patrulhas esporádicas na região.

"É uma inversão de valores total, você não pode ter um prefeito que coloca a população em risco. É uma atitude irresponsável com a cidade e está totalmente em desacordo com as disposições do cargo dele. Toda a vez em que a polícia interfere ele [Haddad] sai vociferando. O prefeito faz oposição a ele mesmo", criticou Matarazzo.

O vereador disse que vai se reunir com a bancada do partido, com os advogados e com lideranças de outros partidos para determinar quais são as medidas legais cabíveis.

Colaboraram CATIA SEABRA e REYNALDO TUROLLO JR.


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