Folha de S. Paulo


Prefeitura de São Paulo faz ofensiva contra 'favelinha' da cracolândia

A Prefeitura de São Paulo iniciou na manhã desta quarta (29) uma ofensiva contra as barracas de usuários de drogas na cracolândia, na região da Luz, centro da capital paulista.

Durante a tarde, houve um tumulto na região. Alguns dependentes jogaram pedras e latinhas contra guardas civis metropolitanos. Com isso, policiais da Força Tática cercaram o local. Houve a explosão de uma bomba e usuários disseram ter sido atingidos por gás de pimenta. Um homem foi ferido na canela, mas as circunstâncias ainda serão apuradas.

No início da manhã, as barracas foram desmontadas, a área agora será limpa, e os viciados, ao contrário do que ocorre diariamente, não poderão mais reerguer seus abrigos. Esse conjunto de barracas é conhecida como "favelinha".

Em nota, a prefeitura afirmou que começou há semanas com a abordagem de dependentes químicos para cadastrá-los em programas sociais e explicar que a persistência de barracas na via pública não seria mais tolerada.

"Não podemos permitir a instalação de barracas que sirvam ao tráfico. Cerca de 30% das barracas servem ao tráfico e nosso objetivo é desmontar todas", afirmou o prefeito Fernando Haddad (PT) nesta manhã.

Sem os abrigos, os usuários de drogas que costumam ficar concentrados entre a rua Helvetia e a alameda Cleveland, estavam espalhados, em grandes aglomerações, por várias vias da região, principalmente, na alameda Dino Bueno. Segundo a prefeitura, eram cerca de 500 usuários na região no início da operação, sendo que em torno de 200 dispersaram e os demais permanecem em vias próximas.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo o prefeito, a ideia da ofensiva iniciada nesta quarta é convencer esses usuários a participarem do programa "De Braços Abertos", que oferece tratamento, hotel e trabalho aos usuários.

Muitos viciados resistem a participar do programa por discordarem de regras impostas pela prefeitura, como horários a serem cumpridos. Atualmente, são atendidas entre cem e 150 sem-teto da região da Luz, segundo Haddad.

"A prefeitura não tem os meios para combater o tráfico de drogas. Nós temos para atender o dependente químico, oferecer tratamento e trabalho", disse o prefeito.

Haddad afirmou ainda que depende da polícia para manter a operação na área. "O congelamento da área depende de uma ação da Polícia Militar e, sobretudo, da Polícia Civil. Ou seja, impedir que o traficante se instale na região", disse.

"Eu recebi a visita do secretário [da Segurança Publica], Alexandre de Moraes, e ele falou que pretendia asfixiar o tráfico na região. Para isso, precisamos da presença efetiva da polícia no local, não para reprimir, mas para manter o tráfico afastado", afirmou.

Segundo o prefeito, existe uma população flutuante que não é de São Paulo, que só vem para a região em busca da droga fácil. Essa população tem casa ou vem de outros municípios.

Durante a visita de Haddad ao local, alguns dependentes que participam do programa "De Braços Abertos" protestaram por causas de mudanças no programa. Eles são contrários a remoção para outros hotéis.

Editoria de arte/Folhapress

PRAÇA ADIADA

Com a remoção da "favelinha" na região da cracolândia, funcionários da prefeitura faziam iniciaram a remoção dos tapumes que cercavam uma praça, construída a poucos metros da praça Julio Prestes, que teve a abertura adiada por conta da concentração de usuários de drogas.

Em entrevista à Folha, realizada nem março, a secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, disse que a administração estava "segurando" a entrega do equipamento, que tem bancos de concreto e espaço para plantas, por causa do avanço do fluxo.

A secretária disse na ocasião, que a construção da praça é uma medida para tentar uma retomada pacífica e ordenada do local. "A ideia é fazer uma ocupação boa, para socializar, dar dignidade, com colocação de bancos para as pessoas se sentarem e de sombras", disse.

GOVERNO ESTADUAL

O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, disse que não sabia que a operação na região da cracolândia, centro de São Paulo, ocorreria nesta quarta-feira (29). Segundo ele, isso ainda seria planejado.

"Na segunda-feira, eu e o prefeito Haddad conversamos para que fosse montada uma operação. Hoje haveria uma reunião do comando operacional para definirmos a estratégia", disse.

O secretário disse ainda que a situação de usuários na cracolândia é um problema social, não se segurança pública.

"Isso é uma questão social, uma questão de saúde pública. Se todas essas pessoas que aqui estão fossem traficantes ou criminosos, nós faríamos uma operação policial, prenderíamos todo mundo e levaríamos para o sistema penitenciário. Essas pessoas não são traficantes, são usuárias que precisam de tratamento de saúde", disse.


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