Folha de S. Paulo


Pequena cidade indonésia vive 'frenesi macabro' antes de execuções

A pequena cidade de Cilacap, no centro da ilha de Java, está com hotéis e ruas lotados, numa espécie de 'frenesi macabro' ante a iminência da execução de nove condenados à morte.

A proximidade do fuzilamento fez lotar hotéis com familiares de presos, advogados, diplomatas, policiais e jornalistas locais e estrangeiros. Agora só há quartos disponíveis em Purwokerto, a uma hora de carro.

Faltam também carros e motoristas particulares para tamanha demanda. Táxis, aliás, não são muito comuns na cidade. O meio mais popular de transporte são scooters e becaks (pronuncia-se "bechás"), bicicletas que, adaptadas com uma cabine na parte de trás, levam até duas pessoas.

A rotina de todos é a mesma todos os dias: ir até o porto de Wijayapura, de onde partem as balsas rumo à ilha de Nusakambangan, que dá acesso à prisão de Besi, onde estão os prisioneiros à espera da execução.

Só podem entrar no porto quem defende os prisioneiros, familiares, religiosos, diplomatas e policiais –jornalistas ficam em uma área restrita, antes do porto.

"Esse movimento é só até quarta-feira. Depois você acha vaga no hotel que quiser", disse Usan, 40, que auxilia uma equipe de advogados de um prisioneiro nigeriano. É uma referência ao fato de que as execuções devem ocorrer nas primeiras horas de quarta-feira (29), tarde de terça-feira (28) no Brasil.

Nas ruas, a impressão é que a maior parte dos locais é favorável à pena de morte, tendência idêntica à da maior parte da Indonésia –uma pesquisa recente apontou que mais de 80% das pessoas apoiavam a sentença capital.

"Sou a favor, principalmente para terroristas, que matam pessoas", disse o comerciante Machlub Acup, 44.

O contraponto são os familiares de presos, que vestem camisas ou ostentam cartazes contrárias às execuções e protestam, caso dos parentes da filipina Mary Jane Fiesta Veloso, 30, condenada por tráfico de drogas, e dos dois australianos dos chamados "Nove de Bali", Myuran Sukumaran e Andrew Chan, que entraram no país com heroína.

Tal como em Jacarta, os homens de Cilacap vestem jaquetas tão grossas como escuras, a despeito de um calor que beira ou ultrapassa os 30 graus e no qual, associado à umidade, faz os óculos embaçarem apenas de sair na rua. A maioria das mulheres anda com véus, seguindo a tradição muçulmana.

Chegar à cidade exige paciência. São dez horas de carro, sete de trem (um por dia) ou uma hora e meia em um pequeno avião (são quatro voos diários para Jacarta).

A Folha foi de carro, em uma estrada sinuosa, de mão simples. Os primeiros minutos aterrorizam, mas basta pouco tempo para o passageiro se acostumar com buzinas e freadas bruscas às margens de vilarejos e campos de arroz. A reportagem não viu nenhum acidente no trajeto.

Editoria de Arte/Folhapress

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