Folha de S. Paulo


Com dez sentenciados à morte, Indonésia amplia área de fuzilamento

Será em um descampado em área remota da ilha de Nusakambangan ("ilha flutuante", no idioma local) que Rodrigo Gularte será executado, assim como os outros nove sentenciados à morte por tráfico de drogas –um francês ainda recorre.

Jamais houve execução de tantos prisioneiros ao mesmo tempo no país –em janeiro, foram cinco, entre eles o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira. Por isso, o governo indonésio teve que encontrar uma área na ilha na qual fosse possível alinhar os dez prisioneiros a uma distância razoável e manter dez pelotões de fuzilamento, com 12 homens cada, diante de cada um dos condenados.

Não foi só. A prisão de Besi, para onde são transferidos os prisioneiros em vias de execução, não tinha celas suficientes para todos. Foi preciso erguer mais cinco celas para isolar os prisioneiros.

O isolamento é um dos procedimentos preparatórios da execução.

As obras foram feitas entre janeiro e fevereiro, após a primeira onda de fuzilamentos.

O estafe necessário para execuções desse porte é gigantesco. Fora os nove condenados e os 108 integrantes do pelotão de fuzilamento, ficam no campo aberto médicos (para atestar a morte), religiosos (para quem queira receber ajuda espiritual) e ambulâncias (para recolher os corpos tão logo o fuzilamento termine).

Os condenados são retirados da prisão de Besi uma hora antes da execução. Ao chegar ao descampado, ficam amarrados em cruzes de madeira, a cinco ou dez metros de distância dos seus carrascos. Podem ficar em pé, ajoelhados ou sentados, tal como podem ficar vendados ou não. Como as execuções costumam ser à noite, holofotes iluminam a área.

O procedimento, previsto em lei de 2010, estabelece que os prisioneiros devam usar camisetas brancas; nelas, é feito um "X" preto, na altura do coração. Três minutos antes do horário previsto para o fuzilamento começar, um religioso fica à disposição do condenado. Presente em 2008, quando dois nigerianos foram executados, o padre Charles Burrows, de Cilacap, disse que na ocasião fez a extrema-unção e cantou o hino "Amazing Grace", composto no século 18, que diz: "Por muitos perigos, labutas e armadilhas eu já passei, e a graça [de Deus] me trouxe salvo até aqui, e a graça me conduzirá ao meu lar".

CREMAÇÃO

Um aspecto cruel é que a família tem que escolher antecipadamente o que fazer com o corpo de um parente que está vivo. Para Gularte, a família já definiu a cremação, para posterior envio das cinzas ao Brasil. Uma das razões é o custo: transportar um corpo em caixão para o Brasil custa perto de R$ 30 mil; só as cinzas, 20% disso.

Editoria de Arte/Folhapress

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