Folha de S. Paulo


Caótica, 'favela global' Paraisópolis usará fama para cobrar melhorias

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As chegadas de Bruna Marquezine, Caio Castro e Tatá Werneck deixam ainda mais apertadas as estreitas ruas de Paraisópolis, comunidade na zona oeste de São Paulo.

Tudo graças ao alvoroço dos moradores da segunda maior favela da capital em busca de uma foto ou de um autógrafo das estrelas da Globo nas gravações da próxima novela das 19h. "I Love Paraisópolis" estreia em 11 de maio.

E esses mesmos moradores querem usar a exposição em rede nacional de TV para cobrar antigas promessas da prefeitura e do governo do Estado. A lista é longa: transporte, hospital, saneamento básico, creche para cerca de 3.000 crianças e melhoria no serviço de policiamento.

Atores da trama também embarcaram na onda e iniciaram campanha em redes sociais. Henri Castelli, por exemplo, publicou uma foto na qual pede a retomada do programa de urbanização, prometido pelo prefeito Fernando Haddad (PT), e a construção da linha 17-ouro do Metrô, o monotrilho, que ligará Paraisópolis à zona sul.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a anunciar que a linha funcionaria antes da Copa de 2014, mas adiou o projeto para 2017.

Outra reivindicação dos moradores é a canalização do poluído córrego Antonico.

A dona de casa Rayane Souza, por exemplo, vive de aluguel em uma casa erguida por cima do curso d'água, como uma palafita. Na semana passada, o barraco de um vizinho caiu com a força da água.

"O povo gritava socorro. Eu já estou há duas semanas sem comer por causa do cheiro de esgoto", diz a dona de casa.

O caos no trânsito também é um desafio na favela, que abriga 56 mil pessoas.

Apertadas, as ruas não têm placa de sinalização. Trechos sem calçada são disputados por carros e pedestres. Para organizar o fluxo, a própria comunidade definiu, em acordo informal, que a via tem mão única -menos para as motos, que andam em qualquer sentido, até mesmo em calçadas.

ENREDO

A novela contará a história de Marizete, vivida por Bruna Marquezine, e Pandora, interpretada por Tatá Werneck, que vivem em Paraisópolis. A trajetória das personagens irá se cruzar com as de moradores do Morumbi, bairro vizinho com renda por pessoa quase nove vezes maior -R$ 470 contra R$ 4.452.

A favela abrigou parte das filmagens, e casas de moradores viraram cenário. A partir de agora, porém, as gravações devem se concentrar na Paraisópolis cinematográfica do Projac, complexo de estúdios da Globo, no Rio.

OUTRO LADO

A gestão Fernando Haddad (PT) informou que foram investidos em Paraisópolis R$ 90 milhões, incluindo recursos federais e estaduais, beneficiando 20 mil famílias.

O dinheiro, segundo o município, foi destinado a obras de drenagem, infraestrutura, pavimentação e construção de moradias populares, redes de água e esgoto.

Editoria de Arte/Folhapress

A prefeitura disse ainda que entregou 305 moradias na região e que invasões prejudicam a política habitacional. Não informou quando serão entregues o hospital de Paraisópolis, o parque Sanfona e a escola de música, também na lista de promessas.

A licitação para canalizar os córregos Antonico e Jardim Colombo será feita no segundo semestre, afirma a gestão.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse ter instalado equipamentos de sinalização e redutores de velocidade, como lombadas, em locais com potencial risco de acidentes. Mas, segundo a companhia, "as implantações promovidas são alvos constantes de vandalismo".

O Metrô, empresa do governo Geraldo Alckmin (PSDB), informou que cerca de 1.700 pessoas trabalham na construção da linha 17-ouro do monotrilho. A primeira parte da obra tem oito estações, entre a zona sul e a região do Morumbi (zona oeste), e está prevista para 2017.

O atraso de três anos, segundo a companhia, ocorreu por alguns problemas, como demora na obtenção de licenças ambientais e dificuldades na fase de desapropriação.

O segundo trecho da linha, que inclui a estação Paraisópolis, vai atrasar ainda mais por causa de "ações judiciais em curso" e ainda não tem data para a inauguração.

A Polícia Militar diz que faz o policiamento de Paraisópolis com base comunitária estacionada na esquina de duas ruas da comunidade.

A PM afirma ainda que promove patrulhas com a Rocam (Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas) nos horários de pico e patrulhamento com carros. Nos dois primeiros meses deste ano, 68 pessoas foram presas e 33 veículos roubados e furtados foram encontrados na região.

A Secretaria da Segurança Pública informou que, nos fins de semana, aborda veículos antes das festas nas ruas.

Vídeo: FELIX LIMA e ISADORA BRANT | Edição: DIEGO ARVATE


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