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Moradores vão à Justiça contra hotel para usuários de crack no centro de SP

Rubens Cavallari/Folhapress
Morador de Campos Elíseos Antônio Iézio Silva, 55, diz que um hotel para viciados vai destruir a região
Morador de Campos Elíseos Antônio Iézio Silva diz que hotel vai destruir região

Um grupo de moradores de Campos Elíseos, no centro de São Paulo, entrou com uma ação judicial para tentar impedir a inauguração de um novo hotel para usuários de crack no bairro.

O principal argumento dos moradores e comerciantes é que a hospedagem –que será implantada na alameda Barão de Limeira, 612– atrairá traficantes e usuários de drogas para a região.

Editoria de arte/ Folhatress

O local foi escolhido após a prefeitura ter tomado conhecimento pela imprensa de que outras hospedagens conveniadas ao programa "De Braços Abertos", criado para tratar usuários de crack, estão com a estrutura precária e serão descredenciados, como o Pensão Azul e Seul.

A administração municipal disse ter informado ao Conseg (Conselho de Segurança) da Santa Cecília que os novos prédios só serão inaugurados quando houver alvará e Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.

O "De Braços Abertos" oferece trabalho de varrição de rua para os dependentes que aceitarem o tratamento. Eles ainda recebem um salário de R$ 15 por dia e têm direito a quartos de hotel para se hospedarem.

Gestor financeiro e morador de Campos Elíseos, Antônio Iézio Silva, 55, diz que a intenção da prefeitura é apenas destruir a região. "A prefeitura deveria usar esse dinheiro para comprar um sítio com médicos, psicólogos e agentes especializados para tratar essas pessoas [viciados]. Não é deixando o drogado perto do traficante que o problema será resolvido. Não estão preocupados com a nossa segurança."

A secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, disse à Folha que ela e o subprefeito da Sé, Alcides Amazonas, se comprometeram a impedir que a região seja prejudicada com a chegada do hotel.

"Não vamos deixar formar barracas nas calçadas ou algum problema que não existia antes da implantação do hotel. Vamos inclusive selecionar os usuários que já apresentam uma evolução significativa no tratamento para serem enviados à região", afirmou Temer.

A Folha mostrou no último mês que o crescimento de uma favelinha na cracolândia está adiando a entrega de uma praça na região da Luz, no centro da capital paulista.

A secretária disse ainda que esta não é uma ação específica no bairro e que outros pontos da cidade terão hotéis semelhantes.

"Teremos um hotel na Freguesia do Ó [zona norte] e estamos procurando outros locais viáveis para essas implantações na cidade inteira. Todo mundo quer que a prefeitura resolva o problema do crack, mas esse caminho passa pela cidade. Não vamos colocar ninguém em outros municípios porque a pessoa deve ser respeitada e tratada no contexto que ela aceite."

O presidente do Conseg Santa Cecília, Fabio Fortes, disse que a futura hospedagem, onde funcionava um escritório, já está sendo usado por usuários de drogas e que o bairro será prejudicado pelo tráfico.

"Aquilo é um deboche e não tem nenhuma característica de hotel. O que recupera [o viciado] é o tratamento, a internação compulsória, não o cara ficar hospedado num lugar com acesso de traficantes", disse.


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