Folha de S. Paulo


Governo de SP quer reajuste de 22,7% na tarifa da água

A Sabesp quer um reajuste de 22,7% nas contas de água e esgoto para, segundo a empresa do governo Geraldo Alckmin (PSDB), contornar os gastos extras da estatal para lidar com a maior crise de abastecimento do Estado de São Paulo.

O pedido foi feito durante uma audiência pública que discutiu nesta quarta-feira (15) a proposta da Arsesp (agência reguladora) de reajustar a tarifa em 13,8%. A inflação desde o último reajuste da Sabesp, em dezembro de 2014, foi de 4,63%.

Pela proposta da Sabesp, uma conta de menor consumo (10 mil litros por mês) sairia de R$ 35,82 para R$ 43,95, um aumento de R$ 9,13. Esse perfil compreende 55% das casas da Grande São Paulo. Já uma casa que tenha uma conta de R$ 231,82, passaria a ter uma conta de R$ 284,44, um aumento de mais de R$ 52 reais, caso a Arsesp acolha o pedido de reajuste da tarifa.

Editoria de arte/Folhapress

Segundo a Sabesp, a diferença entre o que ela pede e o que foi proposto pela Arsesp acontece pois a Sabesp precisa repor perdas tidas com a crise hídrica desde 2013.

"A Arsesp está olhando daqui para frente. Nós pedimos que se considere as perdas de 2013 e 2014", disse o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Rui Affonso.

No início de março, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) e a Sabesp haviam pedido para que a Arsesp aumentasse a tarifa de água e esgoto. Para fazer o pedido, a Sabesp enviou à agência um relatório sobre o aumento do custo energético da empresa e a drástica redução da água vendida pela empresa (incentivado por campanhas de consumo consciente e por manobras de redução da pressão da água nas tubulações).

A Arsesp, então, chegou ao índice de 13,8%, o que foi questionado agora pela Sabesp com esse pedido de 22,7%.

De acordo com Affonso, os gastos com o bônus proposto pela Sabesp a quem reduzir o consumo de água não deverá entrar na conta para a revisão da tarifa. Também não entram na conta o agravamento da crise econômica no país ou a desvalorização cambial.

CRISE DA ÁGUA

Por causa da crise hídrica, a empresa é afetada em dois pontos principais: 1) forte redução da receita em consequência da diminuição do consumo de água e do desconto concedido a clientes que conseguem economizar; 2) obras e investimentos emergenciais que a Sabesp precisa fazer para evitar um rodízio drástico e oferecer um mínimo fornecimento de água.

Editoria de Arte/Folhapress
Queda no lucro da Sabesp
Queda no lucro da Sabesp

O último reajuste na conta da Sabesp entrou em vigor em dezembro do ano passado, no total de 6,49%. O reajuste, que era para ter sido aplicado em abril (5,4%), foi adiado para o fim do ano, período após a eleição na qual o governador Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu a reeleição.

A empresa diz que, na ocasião, adiou o reajuste porque estava implantando sua política de bônus para quem consumisse menos água. Segundo Rui Affonso, a implantação do bônus e o reajuste ao mesmo seria confuso para a população.

Segundo a Arsesp, a Sabesp pede o reajuste nas contas alegando o "aumento do custo de energia elétrica e a redução na demanda decorrente da crise hídrica". Conforme mostrou reportagem da Folha, a crise da água faz lucro da Sabesp despencar em 2014.

Se em 2013 a empresa paulista de saneamento lucrou R$ 1,9 bilhão, no ano passado esse valor despencou para R$ 903 milhões. A deterioração é explicada pela combinação entre uma queda de 6,7% da receita bruta (equivalente a R$ 636 milhões) –provocada pela adoção de descontos para clientes que reduzam o consumo–, um aumento de 13,6% nas despesas da empresa (valor de R$ 1,1 bilhão) e de 18,5% nos investimentos chegando a R$ 3,2 bilhões.

A desvalorização do real complicou ainda mais a situação da empresa. Cerca de 40% da dívida da Sabesp é em moeda estrangeira, mas a empresa não conta com instrumentos financeiros de proteção contra depreciação cambial.


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