Folha de S. Paulo


Alunos estudam em meio a tiroteios no Complexo do Alemão

Mauro Pimentel/Folhapress
Fachada de escola estadual, que fica ao lado de base policial, foi fuzilada por criminosos
Fachada de escola estadual no Complexo do Alemão, que fica ao lado de base policial, foi fuzilada

"Podemos dizer que aqui é cara ou coroa, porque da mesma forma que a gente serve de escudo para eles [PMs], nós podemos ser alvos", lamenta Ian Lima, 21, aluno do terceiro ano da Escola Estadual Theóphilo de Souza Pinto na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

O colégio foi fuzilado com mais de 50 tiros em confronto entre policiais e criminosos no último dia 21.

Segundo o estudante, alunos, professores e funcionários convivem com o medo diário da violência por causa de uma base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) instalada no pátio escolar. A cabine policial fica bem ao lado da escola e recebe ataques frequentes de traficantes.

O clima de tensão no Complexo do Alemão só aumenta desde que o menino Eduardo de Jesus, 10, foi morto com um tiro de fuzil na porta de casa, no último dia 2. Crianças e pais estão assustados.

Acuado, um grupo de 12 alunos da escola Theóphilo de Souza Pinto diz que a insegurança faz parte da rotina dentro da sala de aula. "A gente estuda sem foco com medo de acontecer outra coisa, porque temos que ficar sempre atentos aos tiros", contou um estudante de 16 anos, do terceiro ano.

Mauro Pimentel/Folhapress
Estudantes conversam na favela Nova Brasília, palco de confrontos entre PMs e traficantes
Estudantes conversam na favela Nova Brasília, palco de confrontos entre policiais militares e traficantes

TIRO DE TODO LADO

Os policiais militares também dizem que viram alvo fácil do tráfico na base ao lado da escola. A cabine nem sequer tem blindagem.

"O engenheiro que colocou essa base aqui ao lado do colégio não teve a menor atenção, porque deixou todo mundo em risco", afirma um policial que pediu anonimato.

"Vem tiro de todo lado aqui, a qualquer hora do dia. Eu jamais colocaria o meu filho nessa escola", diz.

O mesmo PM diz que policiais são chamados para confronto por rádios transmissores quase todos os dias pelos traficantes e se escondem com frequência atrás da mureta que cerca a frente da escola para trocar tiros.
"Vira e mexe, eles [policiais] entram no colégio para se proteger", diz uma funcionária, assustada.

Não é a primeira vez que a base da UPP, instalada há três anos no local, atrai tiros.

Em 20 de novembro do ano passado, o colégio foi alvejado várias vezes logo após passar por uma reforma.

"Deixei de mandar a minha filha para a escola justamente por causa dessa base mal situada da UPP, que não oferece segurança nenhuma e deixa as crianças na linha de tiro", denunciou um pai.

Em meio a um cenário de vidros estilhaçados, muros e paredes furadas por tiros até mesmo dentro de sala de aula, alunos perdem dias de estudos para a violência. "Só vão resolver quando acontecer alguma coisa com um aluno. Só depois da tragédia que vem a atitude", desabafou Ian Lima.

A coordenadoria das UPPs anunciou que a base será desativada em breve e transferida para um prédio que está em fase final de reforma. Informou também que o policiamento será reforçado.


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