Folha de S. Paulo


Comoção, aplausos e desmaio marcam enterro do menino Eduardo no Piauí

Choro, aplausos, desmaio e gritos da mãe marcaram nesta segunda-feira (6), em Corrente (874 km de Teresina), o velório e o enterro do menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10, que foi assassinado na porta de casa no Complexo do Alemão, no Rio, na última quinta-feira (2).

O corpo do garoto, que foi sepultado por volta das 16h30, e a família chegaram à cidade natal de sua mãe às 9h30 desta segunda. Na sequência, houve um cortejo pelas ruas do município, pequena cidade do sul do Estado, com cerca de 26 mil habitantes. O velório foi realizado na casa de uma tia, no bairro Vermelhão.

O bairro, de cerca de 2.000 habitantes, parou para receber o corpo. A casa da tia, uma residência simples de dois quartos com chão de terra batida, recebeu visitantes que vieram se solidarizar com a família.

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Duas tendas foram montadas na residência para receber o público na pequena casa. Até as 14h, 500 pessoas já haviam se deslocado até o imóvel para acompanhar o velório, segundo funcionários da prefeitura.

A morte de Eduardo gerou uma série de protestos no Rio. Causou repercussão –inclusive de atores globais – e forçou reações do governo do Estado após onda de violência no Complexo do Alemão.

Corrente é a terra natal de Terezinha Maria de Jesus, mãe de Eduardo, nascido no Rio. Há 16 anos ela mora no Complexo do Alemão, nos morros cariocas, para onde se mudou em busca de emprego –hoje ela trabalha como diarista.

A família informou que quer voltar a morar no Piauí. Os pais e o irmão do garoto vão permanecer dez dias em Corrente e depois irão retornar ao Rio para colaborar nas investigações sobre a morte. Na sequência, mudam-se definitivamente para a terra natal.

Um momento de tensão ocorreu na chegada do corpo. A tia do garoto Maria de Lurdes Lopes, 48, dona da casa, desmaiou ao se deparar com o caixão do sobrinho.

Ela foi amparada por vizinhos e levada ao hospital regional de Corrente. Foi medicada após a pressão cair, e passa bem, mas, por precaução, ficou em observação no hospital.

'DOR DE TEREZINHA'

O velório começou por volta das 10h30. No quintal da casa, sentada e abraçada no filho mais velho, Terezinha contava aos presentes memórias do filho. "Ele gostava de estudar, só tirava notas boas, e foi morto de forma cruel".

A aposentada Maria Arlene Batista da Silva, 70, antiga vizinha de infância da mãe, emocionou-se com as palavras de Terezinha. "Não sei nem o que dizer. Não há palavras que consolem. Todo o bairro está comovido com a dor de Terezinha", disse à reportagem.

A estudante Maiara Francisca da Silva Amorim, 17, estava no velório e disse que foi se despedir de Eduardo, que visitou Corrente pela última vez há dois anos.

"A última vez que eu o vi foi em 2013. Era um garoto conversador, brincalhão. Soube da morte pela TV. Tomei um susto e tive que olhar duas vezes para acreditar", contou.

No velório, um policiar militar que atua na cidade fazia a segurança da família. Uma missa foi realizada na capela do bairro, com o corpo da vítima, antes do enterro. O sepultamento ocorreu no cemitério municipal, no centro.

'OURO DA MINHA VIDA'

Abraçada ao caixão durante o enterro, a mãe fez um desabafo, aos gritos, e chorou pedindo Justiça. "Eu vou fazer Justiça, aquele maldito vai pagar o que ele fez com você". "Tiraram o ouro da minha vida".

No enterro, havia cerca de 300 pessoas, segundo a prefeitura. Antes do corpo ser sepultado, foi rezado um pai nosso. Na sequência, aplausos.


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