Folha de S. Paulo


Delegado é preso no Rio após delação premiada de policial

O delegado Fernando Reis e o perito José Afonso Alvernaz, lotados na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) foram presos na manhã desta quarta (1°). Eles são acusados de integrar um esquema formado por policiais civis que simulava a prática de crimes ambientais por parte das empresas e forçava que os funcionários do empreendimento fossem até a delegacia. Lá, eram exigidos até R$ 300 mil para evitar novas investidas policiais no negócio.

De acordo com as investigações, um empresário que se recusou a pagar a propina chegou a ser sequestrado, teve uma arma apontada para a cabeça por um policial e só foi liberado após o pagamento.

Além de sequestro, os policiais vão responder por organização criminosa, extorsão e concussão. Um policial, integrante da quadrilha, aceitou a delação premiada e entregou o funcionamento de todo o esquema de corrupção. Essa é a primeira vez em uma investigação da própria Secretaria de Segurança do Rio e do Ministério Público estadual que um inspetor confessa crimes praticados por um delegado.

Até o fim da manhã desta quarta, os advogados do delegado Reis e do perito Alvernaz ainda não haviam se apresentado à polícia. No momento da prisão, Alvernaz negou a prática de crimes aos policiais da Subsecretaria de Inteligência, da Segurança Pública e aos integrantes das corregedorias Geral Unificada e Interna da Polícia Civil. O delegado Reis, que já foi responsável por todas as delegacias especializadas da Polícia Civil, ou seja, terceiro na hierarquia da instituição, permaneceu em silêncio.

Reis ocupou o cargo de diretor de 23 delegacias especializadas da Polícia Civil por pouco mais de dois anos, durante a administração da delegada Martha Rocha. Com o atual chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, o delegado foi colocado como titular da DPMA onde, a investigação aponta que ele teria chefiado o esquema mais de perto.

A Justiça também expediu um mandado de prisão para o comissário José Luiz Fernandes Alves. Até às 11h30 desta quarta, ele permanecia foragido.

De acordo com os investigadores, os alvos dos policiais eram empresas que "poderiam vir a praticar ou efetivamente causavam danos ao meio ambiente no Estado do Rio". O esquema teria começado em 2012.

O Ministério Público sustenta que a relação de 19 anos na Polícia Civil entre o delegado Reis e o comissário Alves possibilitou a estruturação do bando e a coordenação dos agentes a eles obedientes.

Os investigadores contam que Alves, sob as ordens de Fernando Reis, era o responsável pela administração da arrecadação de propina realizada diretamente por integrantes das equipes de investigação da DPMA, intituladas Fênix. Já Alvernaz forjava laudos periciais, que apontavam crimes ambientais inexistentes. As vítimas eram, então, ameaçadas de prisão em flagrante ou de instauração de investigação.

O dinheiro era arrecadado pelos policiais envolvidos no esquema de uma só vez, o que eles chamavam "pancada". Neste caso, a empresa tinha funcionários ameaçados de prisão, ou efetivamente presos, cedendo à pressão para o pagamento. Em outros casos, as vítimas chegavam a ser sequestradas ou mantidas como reféns por mais de oito horas, enquanto o preço dos resgates era negociado.

Isso aconteceu com empregados e até proprietários das empresas. No caso da "pancada", o percentual arrecadado destinado aos chefes da organização era de 40%, sendo que os restantes 60% eram divididos entre agentes que participavam das investigações forjadas. Algumas extorsões chegavam a R$ 300 mil.

Alguns pagamentos de propina chegaram, segundo os investigadores, a ser pagos no interior da delegacia, a DPMA. Eram acertos fixos, chamados de "merenda". Sempre até o dia 10 de cada mês. O valor das propinas mensais variava de R$ 500 a até R$ 6 mil dependendo do tamanho da empresa.

Essa foi a terceira fase da operação. Nas duas anteriores, seis policiais civis e dois parentes de um deles foram presos.


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