Folha de S. Paulo


Daltônico, artista pinta fachadas de casas e barcos em ilha no Pará

"Este Rio É Minha Rua" é o título e primeiro verso de composição do músico paraense Paulo André Barata.

É também a realidade nas comunidades ribeirinhas do Estado. Ao transportar a arte urbana para casas e barcos da ilha de Combu, em Belém, o artista Sebá Tapajós, 29, levou a frase em consideração. Dela nasceu o #StreetRiver.

A ideia de Sebá ao pintar a fachada de casas e barcos de moradores da ilha é criar a primeira galeria fluvial do país, que deve estar concluída até outubro. No momento, ele pinta a terceira casa e já terminou dois barcos.

Quando pronta, a obra estampará a fachada de até dez embarcações e dez moradias. A galeria terá a participação de mais cinco grafiteiros.

Sebá usa os períodos livres entre outros trabalhos para tocar o projeto e ensinar belas artes a crianças da ilha.

"É tudo de graça. Eu pego R$ 50 do meu bolso, imprimo as apostilas e levo. É como se fosse um dízimo em prol da minha cidade. Só que, em vez de ir pra a igreja rezar, eu ensino artes", disse ele, que não dispensa propostas para patrocinar a ideia.

Divulgação
Instalação do artista Daltônico Sebá Tapajós mistura elementos regionais com arte de rua
Instalação do artista daltônico Sebá Tapajós mistura elementos regionais com arte de rua

ÍNDIOS POP

Suas obras misturam elementos regionais com arte de rua -é o caso de índios usando elementos pop, como óculos escuros, uma de suas marcas registradas.

Outra é o abuso das cores, embora ele tenha alto grau de daltonismo -"quase igual ao de um cachorro".

"Até brincam que eu vejo em 50 tons de cinza", riu. "Na verdade, eu confundo leques de cores", explicou.

Para driblar o problema, Sebá lê a cor nos rótulos das latas antes de pintar. "Eu fiquei muito tempo desenhando e pintando em preto e branco", disse. A "entrega às cores" se deu quando ele ganhou uma bolsa para cursar design gráfico.

Para Geraldo Teixeira, curador de uma exposição de Sebá em cartaz em Belém, a #StreetRiver dá visibilidade aos contrastes da região.

"Da Bahia para baixo, pouco se entende a Amazônia como metrópole", afirma.

"Com essa provocação, Sebá faz a grande cidade olhar para as pessoas que vivem em miséria do outro lado do rio", acrescentou.


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