Folha de S. Paulo


Com medo, morador do interior acha que vírus é contagioso

Cidade com mais casos de dengue confirmados no Estado de São Paulo (7.489), Sorocaba, a 87 km da capital, tem famílias inteiras doentes.

O cenário de terra arrasada fez com que parentes passassem a crer que foram contaminados uns pelos outros, o que não ocorre. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

"Fui cuidar da minha namorada e acabei pegando", disse o estudante Jhonatan Goes, 18, ardendo em febre num posto de saúde em Nova Sorocaba, na zona norte.

"A turma falou que pega. Será? Morro de medo", interpelou sua mãe, a doméstica Vilma Goes, 36.

Seu outro filho, de 15 anos, e a irmã estão adoentados. Uma colega de trabalho foi parar na UTI. "A gente fica nervoso. Pode matar, né?"

Hospitais e unidades de saúde na cidade dedicam alas inteiras aos pacientes com a doença. Um posto até "decorou" as salas com mosquitos Aedes aegypti de papelão pendurados no teto, além de cartazes sobre os sintomas.

A doença domina as conversas nas unidades de saúde. Moradores discorrem com naturalidade sobre o número de plaquetas, um indicador de dengue hemorrágica.

Jorge Araujo/Folhapress
SOROCABA SP SP 26 03 2015 ESPECIAL DOMINGO Alessandro Santos,33 Dengue espera atendimento e sua mulher Edna Santos. Unidade basica de Saude na periferia da cidade de Sorocaba com numeros crescendo geometricamente com infectados com a Dengue. pessoas buscam unidades de saude fazem exames e voltam para casa COTIDIANO. Jorge Araujo Folhapress 703 ORG XMIT: XX
Alessandro Santos espera atendimento junto com sua mulher, Edna Santos.

"Dá um desânimo total, mas tem gente que tem até que se internar. Como um rapaz no posto. A plaqueta dele está 50 [50 mil. O normal é de 150 mil a 400 mil por microlitro de sangue]. A minha, pelo menos, está em 100 [mil]", consolava-se a faxineira Luciane Batista, 37.

Bruna Camargo, 21, desempregada, desabafava. "Na minha família, seis pessoas estão com dengue. Deus está pondo a mão na minha filha."

O operador de empilhadeira Alessandro Santos, 35, contraiu a doença duas vezes em dez dias. A Folha o encontrou em um posto de saúde sem conseguir abrir os olhos.

Sua mulher, Edna Santos, 43, também teve dengue e estava descrente de que poderia evitar novas infestações.

Ela lamentou que não adiantou usar calça nem passar repelente. Auxiliar de enfermagem, Edna cuida de uma idosa que, apesar de ter tido dengue, não adotou medidas para evitar a doença. "E eu tenho que trabalhar, né?", conformou-se.

Editoria de Arte/Folhapress
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Veja o que fazer para evitar a doença e seus principais indícios

É recomendável dificultar o contato do mosquito com a pele, usando repelentes e roupas, mas essas medidas não são suficientes, pondera o professor Adriano Mondini, da Unesp em Araraquara.

O especialista em dengue afirma que a melhor forma de combater a doença é impedir a formação de criadouros, locais com água parada e suja.

"O aparelho sugador da fêmea do Aedes aegypti tem um tamanho avantajado e há relatos de que pode ultrapassar alguns tipos de tecido", diz.

Mondini explica que oscilações na temperatura corporal são comuns. Deve procurar atendimento a pessoa com mais de 37,8°C, sobretudo se também apresentar dores no corpo e nas articulações.

"Vale lembrar que não existe tratamento específico para a infecção pelo vírus do dengue. A equipe de saúde tentará aliviar apenas os sintomas, além de acompanhar a evolução da doença", diz.

"Ficar atento, repousar e manter-se hidratado são medidas importantes para quem está com dengue. Nem sempre o final dos sintomas pode significar o final da infecção pelo vírus."

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