Folha de S. Paulo


Avanço da dengue cria corrida por repelentes em SP

O lote de frascos chega e se esgota antes de ser colocado nas prateleiras. Em algumas farmácias, há até fila de espera com nomes de clientes que aguardam pelo produto, principalmente o infantil.

Os casos crescentes de dengue (já são 70 mortes neste ano no Estado) têm acirrado a busca por repelentes de mosquito em São Paulo. Quem tem sorte de achá-los compra vários de uma só vez.

A reportagem da Folha ligou para dez farmácias nesta sexta-feira (27), em diferentes regiões da cidade, e todas informaram que não têm o produto infantil e que não há previsão de quando vão receber essa mercadoria.
Na farmácia Iguatemi, no shopping de mesmo nome na zona oeste, há uma "lista de espera com mais de cem nomes", informa o atendente.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Dermatologista Renata Dinato, 37, passa repelente nas filhas Maria Eduarda, 4, e Maria Fernanda, 2.
Dermatologista Renata Dinato, 37, passa repelente nas filhas Maria Eduarda, 4, e Maria Fernanda, 2.

A marca Exposis, do laboratório Osler, é a mais procurada, já que contém icaridina, um componente que ajuda a espantar o mosquito por um período de dez horas.

Ralcyon Teixeira, médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, explica que há outros produtos no mercado que podem ser usados para combater o Aedes aegypti.

Um deles é o OFF, da Johnson, que é à base de DEET (dietil-toluamida). "Os outros também são eficientes, só que precisam ser reaplicados mais vezes", afirma.

A advogada Alexandra Musa, 42, já perdeu as contas de quantas farmácias percorreu atrás do Exposis infantil. Mãe de três crianças, ela tem recorrido à irmã, que mora em Porto Alegre (RS).

"Ela compra e me manda pelo Correio. Lá o produto não está em falta", afirma Alexandra, mãe dos gêmeos Gabriel e Giovana, 4, e de João Vitor, 2, que costumam levar o frasco para a escola.

No início do mês, reportagem da Folha mostrou que escolas têm pedido para os pais enviarem o repelente na mochila das crianças.

Apesar de o produto ser recomendado somente para crianças com mais de dois anos, a psicóloga Rachel Merino, 35, passa o repelente nas roupas da filha Cora, 1.

"Uso com muita parcimônia pois sei que, se acabar, não vou encontrar mais."

ALTERNATIVAS

Pais que já ficaram sem o produto infantil recorreram ao de adultos. "Por desespero, já usei o de adulto. Prefiro não arriscar. Tenho medo de pegarem dengue", disse a analista administrativa Juliana Biancalana, 34, mãe de Lyz, 4, e Matheo, 1.

Segundo a pediatra Evelin Pontes, da Santa Casa de São Paulo, o produto de adulto nunca deve ser usado em crianças. "A composição é diferente, e a pele absorve. É a mesma coisa que dar um antibiótico de adulto para o filho porque não encontrou o de criança na farmácia".

Editoria de arte/Folhapress

Como o produto é forte, ela diz que os pais devem passá-lo apenas uma vez por dia. A reaplicação só deve ser feita se a criança estiver em lugares mais expostos, como parques. Para bebês com menos de dois anos, ela recomenda utilizar o hidratante infantil com a adição de duas ampolas de complexo B.

"Aumentamos a produção em oito vezes, mas a demanda tem sido 15 vezes maior", disse o diretor-geral do laboratório Osler, Paulo Guerra.

ESTOQUE

No bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital, a dermatologista Renata Dinato, 37, fez um verdadeiro estoque em seu apartamento, quando encontrou os frascos na farmácia na vizinhança.

"Ao todo, tenho 15 frascos", disse a mãe das meninas Maria Eduarda, 4, e Maria Fernanda, 2.


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