Folha de S. Paulo


'Não admito que decidam sobre a minha vida' , diz médico cubano

O médico cubano Juan (o nome é fictício), que está na região Norte do país atuando pelo programa federal Mais Médicos, relata à Folha as pressões que vem sofrendo para que sua mulher, atualmente no Brasil, retorne à Cuba. A seguir, o seu depoimento.

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Tenho mais de 20 anos de graduação em medicina, com duas especializações e três missões internacionais. A primeira delas, em Angola, em plena Guerra Civil [1975-2002].

Em todas essas missões, tenho dado o melhor de mim como pessoa e como profissional.

Decidi ingressar no programa Mais Médicos porque poderia ter minha mulher ao meu lado. Nesses anos, ela e eu temos sofrido muito com a separação.

Recebi nesta semana um ultimato do governo cubano: ou ela regressa ou serei desligado do programa e terei cassado meu diploma, o que me impedirá de continuar exercendo medicina no meu país. Sem contar outras medidas disciplinares por não cumprimento das normas.

Quando pedimos alguma justificativa, só alegam que nossos governantes não vão permitir uma nova onda de deserções.

Há desconfiança dos nossos líderes em relação a nós porque já houve grupos de profissionais que decidiram deixar seus entes queridos e seu país para se dedicar à limpeza em qualquer lugar do mundo.

Eu não tomaria essa decisão porque amo a minha profissão. Mas, se eles insistirem, serei forçado a abandonar a missão.

Não admito que determinem sobre a minha vida. A decisão de a minha mulher ficar comigo é minha e dela, e de ninguém mais.


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