Folha de S. Paulo


Tipo de vírus mais antigo da dengue puxa surto da doença

Levantamento do Ministério da Saúde mostra que, em 2015, a dengue predominante no país, que vive nova preocupação com a doença, é a do tipo 1, mais antigo.

Neste ano, esse sorotipo do vírus foi detectado em 88% das amostras analisadas no país; o tipo 4, em 11%, e o tipo 2, em 1%, segundo a pasta. O tipo 3 ainda não foi detectado. Os dados podem sofrer variações por município.

Para especialistas, os números podem ajudar a explicar a atual explosão da doença em São Paulo. Até a última semana, o Estado respondia por 55% dos casos no país.

Editoria de Arte/Folhapress
Desde o ano passado, tipo 1 da dengue, mais antigo, é o predominante no Brasil
Desde o ano passado, tipo 1 da dengue, mais antigo, é o predominante no Brasil

Quando uma pessoa é infectada por um tipo de vírus da dengue, ela só pode ser contaminada novamente por um dos outros três sorotipos –são quatro, ao todo.

A maioria das cidades paulistas que hoje enfrenta a doença tinha tido poucos casos do vírus tipo 1 em anos anteriores, segundo Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças do Estado.

"O vírus chega aqui e pega uma população suscetível, o que outras regiões já tiveram dez anos atrás. Isso fez com que a epidemia se deslocasse", afirma Boulos.

O coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho, tem opinião semelhante.

"A ocorrência de epidemias está associada, dentre outros fatores, à circulação ou recirculação de um dos vírus em áreas onde uma parcela da população não tem imunidade".

EPIDEMIA

Há dois anos, a circulação de um sorotipo de vírus até então desconhecido em vários Estados, o tipo 4, culminou em epidemia no país.

Mas a mudança nos tipos do vírus da doença não é o único fator que explica o aumento de casos neste ano, segundo especialistas.

Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP, atribui o cenário atual a uma associação entre fatores climáticos, como o retorno das chuvas, e falhas no controle do mosquito transmissor.

Alguns especialistas avaliam que a crise hídrica em algumas regiões do país também pode ter colaborado com a alta de casos –por incentivar um armazenamento de água em recipientes como baldes, por exemplo.

Para Boulos, no entanto, essa não é a causa principal. "Estamos tendo muito mais dengue em regiões [de SP] que têm água. É um dos agravantes, mas não o fator mais importante", diz.


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