Folha de S. Paulo


Associações de medicina criticam ameaças a cubanos do Mais Médicos

A ameaça do governo de Cuba em substituir os profissionais que integram o programa Mais Médicos, uma das bandeiras do governo Dilma Rousseff (PT), caso seus familiares não retornem à ilha é uma "truculência sem tamanho", afirma o presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), Florentino Cardoso.

"Essa pressão afeta até mesmo o atendimento desses profissionais, é um cerceamento ao trabalho dos médicos. Não podemos admitir que a lei de outro país passe a vigorar dentro do nosso território."

A vice-ministra da Saúde de Cuba, Estela Cristina Morales, tem pressionado, pessoalmente, os profissionais do programa Mais Médicos para que seus familiares (cônjuges e filhos) que estão no Brasil retornem à ilha.

Caso contrário, ameaça substituí-los por outros profissionais que já estariam selecionados, aguardando vaga.

A Folha soube de casos em que marido e mulher estão no programa e têm filhos pequenos. A possibilidade de crianças precisarem retornar a Cuba sem os pais "fere a dignidade do médico", segundo Cardoso. "Eles estão trabalhando aqui, com uma remuneração extremamente baixa, e querem tirar desses pais o convívio com os filhos? É algo que não podemos admitir."

Para o presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), Bráulio Luna Filho, mesmo que muitos dos conselhos e associações de medicina não tenham concordado com a vinda de cubanos ao país, em 2013, a classe médica está indignada com essa imposição do governo de Cuba. "Agora eles já estão aqui, cumprindo a função de médicos. Isso que estão tentando fazer com eles é uma anomalia."

O presidente do CRM-MG (Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais), Itagiba de Castro Filho, considera "inadmissível um governo estrangeiro tentar interferir em um programa do governo brasileiro".

"É inaceitável, sob qualquer tipo de pretexto, o médico residir no Brasil por três anos e ser impedido de estar com sua família. Essa exigência vai contra tudo aquilo que compreende nossa cultura a respeito do convívio familiar."

Em 2013, ano de lançamento do programa Mais Médicos, o então presidente do CRM-MG, João Batista Gomes Soares, criticou a chegada de médicos de Cuba, afirmando que os profissionais brasileiros "não deveriam ser tutores de médico cubano".

O conselho mineiro chegou a entrar com ação na Justiça por considerar que a atuação dos estrangeiros sem o Revalida (exame para revalidação de diploma do estrangeiros) configurava "crime de exercício ilegal da medicina".

"Seguimos criticando que parte da população seja submetida ao atendimento com um profissional do qual não temos nenhuma informação sobre sua formação médica", afirma Castro Filho.

Até dezembro de 2014, dos 14.462 profissionais trabalhando no Mais Médicos, 11.429 –quase 80%– eram cubanos. Não há estimativa de quantos estão com as famílias no Brasil.

Editoria de Arte/Folhapress

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