Folha de S. Paulo


Ativistas se entregam, e reintegração da área do parque Augusta é concluída

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Por volta das 9h desta quarta-feira (4), os quatro ativistas que tentavam resistir à reintegração de posse na área do parque Augusta deixaram a área. O grupo ficou mais de uma hora em cima de uma figueira centenária no meio do terreno. Cercados pela Tropa de Choque, eles acabaram deixando o local.

Agora, o terreno será entregue as construtoras Setin e Cyrela, proprietárias da área, que planejam erguer ali três edifícios. O Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) aprovou o projeto no dia 27 de janeiro.

Por telefone, antes de desceram da árvore, a reportagem da Folha falou com alguns dos manifestantes.

Wesley Silvestre Rosa, 27, ativista do parque dos Búfalos, na zona sul de SP, era um deles. "Queremos o direito de cuidar das árvores que plantamos aqui é que o terreno continue aberto."

Ao seu lado estava o ativista e produtor cultural conhecido como Paulinho Fluxus, 30. Ele já foi detido numa Virada Cultural ao projetar laser no rosto do cantor Lobão era mais enfático. "É a melhor vista de São Paulo. Podemos ficar até de noite fácil", disse ele pouco tempo antes de descer da árvore.

O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado para retirar os manifestantes, mas não conseguiu. Fluxus disse que estavam sendo ameaçados pelos PMs do Choque.

Os outros dois ativistas que também resistiram foram identificados como Leonardo Oliveira e Yuri.

Segundo o vereador Gilberto Natalini (PV) que acompanhou a desapropriação a questão agora pode ser decidida pelo prefeito. "Está nas mãos dele, o dinheiro que ele dizia não ter para criar o parque agora já existe com a decisão do Ministério Público. Se ele não receber os ativistas e desapropriar essa área é um prefeito antisustentabilidade", afirmou.

PROTESTO NA PREFEITURA

Cerca de 200 manifestantes que tinham desocupado a área logo no início da manhã seguiram em caminhada até a prefeitura, onde pretendem ser recebidos pelo prefeito Fernando Haddad (PT).

Em dezembro de 2013, o prefeito aprovou a criação do parque, mas a Secretaria Municipal do Verde informou que não conseguiria arcar com os custos de desapropriação da área –estimada, na época, em R$ 70 milhões.

Os ativistas chegaram ao viaduto do Chá por volta das 11h. Sentados em frente à prefeitura, o grupo cantava gritos de guerra e pedia uma audiência com Haddad.

Não havia previsão se o prefeito iria recebê-los. A vice-prefeita Nádia Campeão teria indicado o secretário de relações governamentais, Alexandre Padilha, para conversar os ativistas. O grupo, no entanto, se nega a discutir o assunto com ele. "Queremos falar com o Haddad, ele que apareça e pare de ser omisso", disse o advogado dos manifestantes Daniel Biral.

No caminho até a prefeitura, os ativistas pararam em frente a uma obra da Setin, uma das duas construtoras donas do terreno. Um funcionário da empresa discutiu com os manifestantes e a PM precisou intervir.

Por volta das 12h, o grupo desistiu de encontrar o prefeito e encerrou o ato. Logo em seguida, eles seguiram para o vale do Anhangabaú onde encerraram o protesto plantando árvores.

Desde o início do ano, o movimento Organismo Parque Augusta (OPA) e outros manifestantes mantinham uma vigília cultural na área, com ativistas se alternando no acampamento montado no local e atividades culturais.

A intensa movimentação e atrações no local acabou também por atrair a atenção dos moradores da região que passaram a frequentar o terreno, uma das poucas áreas verdes do centro da cidade.

O terreno é tombado pelo órgão municipal desde 2004. Nos cerca de 25 mil metros quadrados da área estão árvores nativas da mata atlântica e o que restou de um tradicional colégio particular demolido nos anos 1970.

As últimas horas dos ativistas no local teve aulas públicas e uma vigília durante a madrugada à espera da chegada da PM. Desde a tarde de terça (3), as barracas e pertences dos manifestantes já haviam começado a ser retiradas do local.

Editoria de Arte/Folhapress
Algumas das características que teria o parque Augusta

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