Folha de S. Paulo


Rio, 500 anos: 2065

A convite da Folha, quatro autores cariocas de diferentes estilos imaginam como será a cidade em outro aniversário, daqui a 50 anos.

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Homem acorda num hospital. Ao seu lado está um enfermeiro.

- Bom dia, senhor.

- Onde é que eu tô?

- O senhor acabou de acordar de um coma de 50 anos.

- Isso é um hospital?

- Seja bem-vindo ao Miguel D'Or.

- O Miguel Couto mudou de nome?

- Sim, desde que foi comprado pela rede d'Or.

- Ainda é na Lagoa Rodrigo de Freitas?

- Sim, mas agora se chama Lagoa Skol.

- A Skol comprou a lagoa?

- E encheu com cerveja. Ficou lindo o amarelo combinando com o verde do Cristo Jequiti.

- A Jequiti comprou o Corcovado?

- Não, só a estátua. O morro foi comprado pela telefonia. É o CorcoVivo, todo roxo.

- Cacete. Mudou tudo.

- Nada! Tá tudo igual. Toda semana tem jogo no OiMaracanã. Esse TimDomingo tem ClaroFla e FluFiat.

- Não sobrou nada com o mesmo nome?

- Sobrou o pão de açúcar.

- Ufa. Não foi comprado?

- Foi comprado pelo Pão de Açúcar, então manteve o nome.

- Não acredito que venderam o Rio inteiro.

- Itaú.

- Oi?

- Agora chama Itaú.

- Maldito Eduardo Paes.

- Eduardo Odebrecht.

- A empreiteira comprou o prefeito?

- O senhor tá em coma há 50 anos ou há 100?

GREGORIO DUVIVIER, 28, ator e escritor, é um dos fundadores do portal de humor Porta dos Fundos e colunista da Folha.

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Leia também:

  • Rio, 500 anos: Rio de Janeiro, 1º de março de 2065, por NEI LOPES, 72, escritor, compositor, carioca suburbano
  • Rio, 500 anos: O horror que vem do mar, por EDUARDO SPOHR, 38, jornalista e autor de "A Batalha do Apocalipse" (Ed. Verus, 2010)

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