Folha de S. Paulo


Crise provoca inflação da água e 'reviravolta' no comércio de SP

A escassez de água nas torneiras e a possibilidade de um rodízio mais drástico provocaram uma pequena reviravolta no comércio da Grande São Paulo.

Com o aumento da procura por produtos relacionados à crise hídrica, o preço da água mineral disparou, as caixas-d'água sumiram dos estoques e comerciantes de outros setores passaram a vender baldes e galões.

É o caso de Adriano Rocha, 30. Dono de uma loja de chinelos, bermudas e camisetas na zona norte de SP, ele passou a vender também tambores de água há uma semana.

Marlene Bergamo/Folhapress
Loja de roupas na zona norte de SP, que agora também comercializa galões de 200 litros de água
Loja de roupas na zona norte de SP, que agora também comercializa galões de 200 litros de água

"Temos de aproveitar. As pessoas acham caro hoje, mas sei que vão comprar quando a crise apertar", disse. Com torneira e capacidade para armazenar 200 litros, ele vende cada reservatório de plástico por R$ 280.

Até mesmo as tradicionais lojas de roupas e eletrodomésticos da avenida Valtier, no Pari (centro), também aderiram à "moda" e passaram a vender tambores e baldes.

Editoria de Arte/Folhapress
Maiores preços encontrados pela Folha
Maiores preços encontrados pela Folha

Dono de uma loja de utensílios domésticos, Clayton Siqueira, 32, começou a vender baldes há uma semana e já estuda comercializar galões.

"Passei a vender [baldes] porque virou uma tendência na região. Teve até fila esses dias", afirmou Siqueira.

Nessa corrida intensificada em janeiro, a caixa-d'água foi um dos produtos mais afetados pela alta nos preços após o anúncio de um possível rodízio de água na Grande São Paulo.

Levantamento da Folha em grandes lojas da capital aponta um aumento médio de 30% no preço desses reservatórios no último ano.

Elda do Vale, 33, vendedora de uma loja no Brás (centro) disse que uma fabricante está há um mês sem fornecer o produto por causa da alta da demanda. "Vendemos as 20 que tínhamos em um dia e já recebemos outros 300 pedidos de clientes. Queriam até pagar adiantado".

Gerente de loja na zona norte, Rosi Antunes, 47, disse que vendeu cerca de 1.000 reservatórios em um mês, a mesma quantidade comercializada antes em um semestre.

"A venda de tubos e conexões para sistemas para captar água da chuva cresceu na mesma proporção. Não consigo encher o estoque", disse.

Por causa da procura, a Fortlev, uma das principais fabricantes de caixas-d'água do país, está levando para São Paulo produtos fabricados na Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina. As vendas aumentaram 52% no Estado desde o início do ano passado.

Além disso, devido à grande demanda, a empresa decidiu antecipar para o próximo mês a inauguração de uma nova fábrica em Itatiba (a 84 km de SP), antes prevista para o fim do ano. A expectativa é dobrar a produção.

A crise hídrica também fez o preço da água mineral disparar. De acordo com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o preço da garrafa de 1,5 litro subiu 11,05% entre fevereiro de 2014 e janeiro de 2015. A inflação no mesmo período foi de 7,7%.


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