Folha de S. Paulo


Medida para economizar água não respeita regra, admite governo de SP

O diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, afirmou nesta quarta-feira (25) que, para economizar água, a companhia tem mantido a pressão nas tubulações da Grande São Paulo abaixo do nível recomendado pela ABNT (Associação Brasileiras de Normas Técnicas).

A informação contradiz declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que negou em dezembro que a empresa estatal estivesse descumprindo a norma da entidade nacional.

"Estamos em uma situação de anormalidade. Nós não conseguiríamos abastecer 6 milhões de habitantes [atendidos pelo sistema Cantareira], se mantivéssemos a normalidade", disse Massato, em sessão da CPI da Sabesp promovida na Câmara Municipal de São Paulo.

Desde o ano passado, como uma medida de racionamento diante da piora dos efeitos da estiagem, o governo tucano decidiu reduzir a pressão na rede de distribuição de água na Grande São Paulo, em especial nas áreas atendidas pelo sistema Cantareira, o principal e também aquele com a situação mais próxima de um colapso.

Ao reduzir a pressão, o governo "empurra" menos água pelos canos. Por um lado, reduz os vazamentos no sistema, já que há menos água em circulação. Por outro, deixa casas sem água, em especial as localizadas em pontos mais altos.

"Nós estamos garantindo 1 metro da coluna de água, preservando a rede de distribuição. Mas não tem pressão suficiente para chegar na caixa-d'água. Estamos abaixo dos 10 metros de coluna de água, principalmente nas zonas mais altas e mais distantes dos reservatórios", afirmou o dirigente da Sabesp na CPI.

Editoria de Arte/Folhapress

Esta é a primeira vez em que a companhia de saneamento reconhece que está descumprindo a norma para garantir o abastecimento de água. Antes, ela afirmava que a redução da pressão abaixo do normal ocorria por falhas no sistema.

Segundo Paulo Massato, nas operações de redução de pressão, que em alguns bairros pode chegar a 15 horas seguidas num mesmo dia, a água empurrada pelas tubulações pode chegar a 1 metro de coluna de água.

De acordo com a norma brasileira, empresas de saneamento devem garantir, pelo menos, 10 metros de coluna de água.

Essa altura é necessária para que a caixa-d'água de um sobrado, por exemplo, possa ser constantemente abastecida. Com apenas 1 metro de coluna de água, como a Sabesp admitiu hoje, a água não tem força para avançar nas tubulações da casa.

Além disso, é possível que, com 1 metro de coluna de água, a Sabesp não consiga sequer garantir que a água chegue a uma torneira no andar térreo de uma casa.

Perguntado sobre o descumprimento da orientação, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, disse que, em situações em que o direito coletivo está ameaçado, normas devem ser "relativizadas".

"Não há dúvida nenhuma de que não estamos em uma situação de normalidade. Normas da ABNT e direitos individuais, em situação em que o direito coletivo está ameaçado, devem ser relativizados", disse. "Não podemos assegurar que em toda rede esteja uma pressão de 10 metros, porque não está", acrescentou.

Segundo o dirigente da empresa, a manutenção do nível de pressão abaixo do recomendável é uma alternativa encontrada pela companhia estatal para evitar a adoção de um rodízio de água.

"Isso não é opção da Sabesp. A alternativa a isso é rodízio, que é muito mais sacrificante para a população", disse.

SOBRETAXA

Cerca de 19% da população na Grande São Paulo aumentou o consumo de água em fevereiro, aponta balanço preliminar divulgado nesta quarta-feira (25) pela Sabesp. Em janeiro, esse índice era de 22%.

Segundo a companhia, essa população está dentro da faixa que receberá uma conta de água mais cara, devido à sobretaxa implantada pelo governo do Estado em janeiro.

Editoria de Arte/Folhapress

Os dados são preliminares e foram apresentados na CPI da Câmara Municipal de São Paulo que investiga o contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a Sabesp. O balanço final com os dados consolidados do impacto da sobretaxa será divulgado após o dia 9 de março.

Fevereiro será o primeiro mês em que a sobretaxa será aplicada. Quem tiver um consumo até 20% superior à própria média recebe 40% de acréscimo na conta de água. Se for acima de 20%, a sobretaxa atinge 100%. O acréscimo é feito em relação à tarifa da água, que representa metade do valor da conta emitida pela Sabesp.

A média de referência é feita a partir do consumo médio no período de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. A medida é uma das ferramentas usadas pelo governo do Estado para inibir o consumo de água, diante da maior crise de água da Grande São Paulo.

Editoria de Arte/Folhapress

RESERVATÓRIOS

Após recuperar o equivalente à segunda cota do volume morto, o sistema Cantareira continua a avançar e sobe pelo vigésimo dia consecutivo nesta quarta-feira (25). Apenas o reservatório de Alto de Cotia teve redução em sua capacidade.

De acordo com balanço divulgado pela Sabesp, o Cantareira avançou 0,1 percentual e atingiu 10,8% de sua capacidade. Com as chuvas desta terça, o manancial já superou em 39,5% (277,8 mm) a média histórica de fevereiro (199,1 mm). Há um ano, eram 60,7 mm.

O Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas na zona norte e partes das zonas leste, oeste, central e sul da capital paulista –eram cerca de 9 milhões antes da crise. Essa diferença passou a ser atendida por outros sistemas.

A segunda cota do volume morto, de 105 bilhões de litros, começou a ser usada em novembro. Nesta terça, quando o sistema atingiu 10,7% de sua capacidade, o equivalente a ela foi recuperado. Já a primeira cota do volume morto, de 182,5 bilhões, talvez somente possa ser recuperada em um ou dois anos. Isso ocorrerá quando o nível do manancial atingir 29,2%.

A situação ainda é crítica no Cantareira, e o crescimento no nível do manancial tem sido menor nos últimos dias em relação ao registrado no início do mês. Em fevereiro, com as constantes chuvas dos 20 primeiros dias do mês, o Cantareira chegou a subir de um dia para o outro até 0,6 ponto percentual.

De acordo com reportagem da Folha, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu adiar a divulgação do chamado "pacote de transparência" que preparava sobre a crise hídrica. A principal medida se referia ao chamado "gatilho" de um eventual rodízio de água.

Já o nível do reservatório Alto Tietê, que também sofre as consequências da seca, opera com 18,3% de sua capacidade, o mesmo índice registrado há três dias. O sistema abastece 4,5 milhões de pessoas na região leste da capital paulista e Grande São Paulo.

O nível da represa de Guarapiranga, que fornece água para 5,2 milhões de pessoas nas zonas sul e sudeste da capital paulista, avançou 1,3 ponto percentual e opera com 58,7% de sua capacidade.

Os reservatórios Rio Grande e Rio Claro, que atendem a 1,5 milhão de pessoas cada um, também avançaram mas de forma modesta: 0,3 e 0,1 percentual, respectivamente. O sistema Rio Grande opera com 83,4% de sua capacidade e o de Rio Claro com 35,5%.

O único a apresentar redução em sua capacidade foi o sistema Alto de Cotia, que opera com 36,4% após queda de 0,3 ponto percentual. O reservatório fornece água para 400 mil pessoas.

A medição da Sabesp é feita diariamente e compreende um período de 24 horas: das 7h às 7h.


Endereço da página:

Links no texto: