Folha de S. Paulo


Ato contra o Exército no complexo da Maré fecha a Linha Amarela, no Rio

Cerca de 300 pessoas da comunidade da Vila dos Pinheiros, no complexo da Maré (zona norte do Rio), fecharam o trânsito nos dois sentidos da Linha Amarela, uma das principais vias expressas do Rio na noite desta segunda-feira (23), próximo à entrada para a Ilha do Fundão, onde fica o campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Os manifestantes protestavam contra ações da força de pacificação do Exército que ocupa o conjunto de favelas desde abril de 2014. Segundo a PM, com a interdição das pistas, houve um arrastão contra motoristas presos no engarrafamento. Até o final da noite, apenas uma vítima do arrastão havia realizado o registro do roubo de um celular e dinheiro na 21ªDP (Bonsucesso).

Após a interrupção do tráfego, policiais militares do Batalhão de Choque foram chamados para retirar os manifestantes da via. Os manifestantes, então, correram para o interior da comunidade, de onde lançaram fogos de artifício contra os policiais.

Rajadas de fuzil foram disparadas para cima de dentro da favela, e os policiais revidaram com tiros de fuzil, também para o alto. Mais tarde, um policial militar disse à Folha que foi uma falta de comunicação com militares do Exército. "Eles dispararam e não nos avisaram. Achamos que era contra a gente e fizemos os disparos, para o alto", disse.

Após cerca de uma hora a Linha Amarela foi liberada, mediante o uso de bombas de gás lacrimogêneo e de balas de borracha.

A liberação não durou nem 20 minutos. Por volta das 21h20 a Linha Amarela foi novamente interditada nos dois sentidos, na altura do acesso à Linha Vermelha. A interdição foi uma medida de segurança adotada pela Polícia Militar. Os manifestantes voltaram a soltar fogos de artifício e pedras de dentro da favela e fizeram barricadas em um dos acessos.

A Polícia Militar afirmou que não poderia entrar na Vila dos Pinheiros sem que houvesse um pedido de auxílio do Exército.

De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura, o acesso à Linha Amarela, até às 23h, era feito somente pela Avenida Brasil.

O clima é tenso no complexo da Maré desde o início do ano. No último dia 12, um carro que levava cinco jovens voltando de um jogo do Flamengo foi fuzilado por militares. Vitor Santiago Borges, 29, que está em coma desde então, teve um pulmão perfurado e a perna direita amputada em consequência de ferimentos causados por balas que teriam sido disparadas por militares.

Na noite desta segunda, uma parente de Vitor que não quis se identificar afirmou que o estopim para a manifestação teria sido um boato que circulou em redes sociais, segundo o qual uma criança teria sido baleada pelo Exército.

Na manhã desta segunda um adolescente de 14 anos foi ferido por estilhaços de uma bala perdida durante tiroteio na Vila do João, favela vizinha à Vila dos Pinheiros. Ele jogava fliperama com os amigos ao ser ferido. Em nota, a assessoria da Força de Pacificação disse, ainda no início da tarde, que o tiro fora disparado por criminosos que tentavam atingir militares.

Procurada à noite para se pronunciar sobre o protesto, a assessoria da Força de Pacificação não retornou as ligações ou respondeu aos emails enviados pela reportagem.


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