Folha de S. Paulo


Voluntários redigem em cartas pedidos de ajuda para emagrecer

Ana Maria de Alencar, 68, diz já ter tentado de tudo, mas nada é capaz de fazê-la emagrecer. Conta estar à beira da depressão. Helenita Pereira da Silva, 60, afirma viver sob ameaça de despejo na Cohab desde que a sua máquina de lavar pifou e a deixou na mão.

As duas foram neste mês ao Poupatempo do metrô Itaquera (zona leste de São Paulo), na esperança de ter seus problemas solucionados.

Elas recorreram ao Escreve Cartas, um programa do governo do Estado criado em 2001 inspirado no sucesso de "Central do Brasil" (1998).

Na película que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a personagem Dora (Fernanda Montenegro) redige missivas para analfabetos na estação de trens do Rio.

Mais de uma década após ter sido implantado em São Paulo, o programa que, na capital, funciona em Itaquera e em Santo Amaro, perdeu muito de suas características iniciais por falta de procura.

São poucos os que ainda buscam os serviços de voluntários (são 189 no total) para falar com familiares que ficaram no Norte ou Nordeste.

Dos 122 mil atendimentos realizados em Itaquera desde 2001, 34% resultaram no envio de cartas (ali também são feitos currículos e preenchimento de formulários). E a maioria delas teve como destinos programas de TV.

Nos últimos cinco anos, 1.700 cartas escritas ali acabaram direcionas a apresentadores como Gugu, o mais procurado, com 550 cartas.

Ana Maria, que quer ficar magra, pediu ajuda a Ana Hickmann e Britto Júnior, da TV Record. Helenita contou seu drama na Cohab a Rodrigo Faro, da mesma emissora.

Segundo a estudante de nutrição Marina Assis Stolé da Silva, 20, voluntária desde 2013, a maioria das cartas para as TVs fala de moradia. "Vários moram de aluguel e querem ter sua casa própria."

Por dia, o dominical de Faro recebe de dez a 15 cartas, quase todas solicitando ajuda financeira, de acordo com a assessoria da Record. São pedidos de dinheiro para pagar dívidas, reformar a casa, tratar dos dentes ou realizar mudanças estéticas radicais.

Há quem peça apenas uma chance. Uma senhora costuma solicitar nas missivas uma oportunidade para o neto de 13 anos, que sonha em ser ator. "Temos sempre que dar água para ela, pois ela fica emocionada", conta Marina.

Quem escreve também se sente tocado. A diretora de escola aposentada Nancy Rost Gazola, 76, já se emocionou ao escrever uma carta para um pai que dizia ao filho preso que não teria como enviar dinheiro a ele. Despedia-se dizendo que o amava.

Voluntário mais antigo do posto de Itaquera, o aposentado Walter Kunihiro Shiguemiti, 74, que escreve cartas desde 2009, diz que a maioria das pessoas que solicitam os serviços das Doras do Poupatempo são idosos sem estudo ou com baixa instrução.

Mas ele já se surpreendeu com uma universitária desejando fazer uma surpresa ao namorado. "Ela estudava medicina, e a letra era um monte de garranchos", lembra Walter, rindo.

Jorge Araújo/Folhapress
Sao Paulo SP 19 02 2015 ESPECIAL A professora aposentada Leila Ariza,voluntaria 995445460 do Poupa Tempo da estação do metro de Itaquera atende Nair Candido,79, para escrever carta para o Procon contra a Eletropaulo. e o Aposentado Renato Machado,52, foi procurarr o serviço de atendimento para escrever carta ao ministério do transportes para conseguir cartão para transportes de onibus gratuito já que é aposentado por invalidez. cel 977114320. .COTIDIANO ESPECIAL Jorge Araujo Folhapress 703 ORG XMIT: XX
Voluntária escreve cartas no Poupatempo da estação do metrô Itaquera, na zona leste de São Paulo

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