Folha de S. Paulo


Uso da Billings é criticado por especialistas

Defendida pela Sabesp, a decisão de usar a represa Billings para tentar aliviar a crise da água na Grande São Paulo foi criticada por especialistas ouvidos pela Folha.

Para Carlos Tucci, professor titular aposentado da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e consultor do Banco Mundial, a ideia é quase como fazer o esgoto percorrer a cidade. "A impressão que dá é de que estão querendo socializar o esgoto", afirma.

A Sabesp (empresa estadual de saneamento) diz que possui tecnologia para tratar a água da Billings. Segundo a empresa, nenhuma água imprópria ao consumo será destinada à população.

Mas, para o consultor Tucci, "o que está se querendo fazer é pegar o esgoto quase que in natura e misturá-lo em uma água melhor" [do sistema Rio Grande]. Depois disso, diz, querem tratar esse volume "como se fosse água comum de rio", afirma.

O comentário se refere à proposta do governo paulista de captar água da Billings (que é abastecida pelo rio Pinheiros) e, por meio de uma série de bombas, levá-la até o sistema Alto Tietê.

Dali, essa água poderia ser bombeada até bairros da zona norte e à cidade de Guarulhos, áreas hoje abastecidas pelo Cantareira.

Segundo Tucci, essa manobra não deve perdurar após a atual crise de abastecimento ser superada. "Estão se somando riscos, inclusive da qualidade da água."

Apesar de ser possível tratar essa água, segundo ele a Sabesp atualmente não utiliza um processo capaz de tornar a água da Billings própria para o consumo. Para que isso ocorra, a empresa terá que mudar procedimentos.

Para o professor Eduardo Cleto Pires, da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, a mudança da qualidade da água que chega para ser tratada pelas estações da Sabesp deve ser analisada constantemente.

Após isso, nova dosagem de produtos químicos deve ser feita de acordo com as especificidades dessa água.

"É preciso analisar a água que chegará às estações de tratamento [após a adição das águas da Billings]. Se tiver metais pesados, por exemplo, algumas modificações terão que ser feitas", disse.

O professor José Tundisi, doutor em ciências botânicas pela USP, não vê muitas dificuldades. Segundo ele, a Sabesp tem conhecimento das áreas mais ou menos poluídas da Billings.

A partir desses dados, diz, seria capaz de escolher pontos em que a captação para consumo humano seja viável.

Atualmente, quem passa sobre a rodovia Anchieta, que liga o litoral à capital, percebe a diferença. De um lado, a cor esverdeada da Billings indica a presença de cianobactérias, que podem originar toxinas. Do outro lado, a água mais escura do sistema Rio Grande, porém própria para consumo.

Marcelo Pliger/ Fabrício Lobel / David Garrooux / Editoria de Arte/Folhapress
Infográfico mostra como é a estação de tratamento de água de Taiaçupeba e explica como a Sabesp faz a limpeza da água para o consumo humano.
Infográfico mostra como é a estação de tratamento de água de Taiaçupeba e explica como a Sabesp faz a limpeza da água para o consumo humano.

Endereço da página: