Folha de S. Paulo


Eleita a mais bonita do Brasil, praia no Pará está com coliformes fecais

Eleita a praia mais bonita do Brasil pelo jornal britânico "The Guardian", Alter do Chão, no Pará, está contaminada com coliformes fecais. O distrito de Santarém pode ter sua principal praia de água doce, na ilha do Amor, interditada.

Desde janeiro, oito casos de hepatite A foram comprovados e 11 estão em análise. A água contaminada também pode provocar diarreia e doenças de pele.

A vila, que fica a cerca de 25 quilômetros de Santarém, tem cerca de 3.000 habitantes. Em setembro, quando acontece um festival local, chega a receber 80 mil turistas.

Nailana Thiely - 17.mar.14/Agência Pará
Alter do Chão, no Pará; local está contaminado com coliformes fecais
Alter do Chão, no Pará; local está contaminado com coliformes fecais

Antes do Carnaval, o Ministério Público pediu a interdição de quatro locais. A Justiça, no entanto, deu prazo até esta segunda-feira (23) para que a prefeitura apresente um plano para resolver o problema.

"É algo muito preocupante, porque muitas das amostras coletadas são de água utilizada diretamente para o consumo, sem passar por nenhum tipo de tratamento", afirma a pesquisadora Graciane Fernandes, da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará).

A análise, feita pela universidade a pedido do Ministério Público, apontou a presença de coliformes em quatro pontos de Alter: praia do Amor (em frente à vila), Cabeceira do Macaco (igarapé) e praia do Centro de Atendimento ao Turista, além dos bebedouros da principal escola da vila.

"Se a água não pode ser consumida, também não pode ser usada para banho, porque há risco de ingestão", diz a pesquisadora.

O autônomo César Ferreira, 35, pai de Sula Melissa, 7, acredita que a menina tenha contraído hepatite no bebedouro da escola. "Começou com vômito, diarreia e muita fraqueza. Trocaram os filtros de lá, mas a gente fica preocupado ainda, porque não sabe como está a situação aqui na vila", diz ele.

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO

Para o promotor Tulio Novaes, a raiz do problema é a falta de saneamento.

"Para que não despejem mais matéria fecal no lago, é necessário que seja construída uma estação de tratamento de esgoto na vila", afirma.

Hoje, barcos de turismo jogam dejetos diretamente na água do rio Tapajós, e as casas da vila não possuem coleta de esgoto.

A pesquisadora afirma que as praias já deveriam estar sinalizadas para alertar os banhistas sobre os riscos. "Pior que a interdição da praia é a omissão de informações. Com as bandeiras, o banhista decide se entra ou não na água."

Graciane Fernandes reclama também da falta de apoio do poder público e da comunidade, que entendem, segundo ela, que o laudo divulgado pela universidade é uma tentativa de manchar a imagem do local.

"Eu, particularmente, não gostaria de continuar [com as análises] sem que haja um comprometimento do poder público", afirma.

A Prefeitura de Santarém foi procurada, mas não atendeu a reportagem.


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