Folha de S. Paulo


São Paulo já adotou racionamento em épocas com mais água do que em 2015

Os últimos racionamentos na Grande São Paulo foram instituídos pela Sabesp, criada em 1973, quando a metrópole tinha muito mais água disponível do que hoje. Era ainda comum que apenas parte da região fosse afetada a cada crise.

Mesmo com faltas de água pontuais, o gigante reservatório do Cantareira, que já chegou a abastecer 9 milhões de pessoas, dava boa margem de abastecimento. O Guarapiranga era sempre o primeiro a sentir as secas intensas.

Em 1985, o reservatório teve que ser socorrido pelo Cantareira, que tinha mais da metade de sua capacidade útil –hoje ela se esgotou, sendo necessário recorrer ao seu volume morto.

Naquele ano, um rodízio foi feito para durar oito dias, mas durou dois meses.

Caio Guatelli - 20.jun.2000/Folhapress
A represa de Guarapiranga, em 2000, ano em que houve racionamento
A represa de Guarapiranga, em 2000, ano em que houve racionamento

A falta de água quase causou uma rebelião no 19º DP (Vila Maria). Quando os cerca de 80 presos (mais do que o triplo da capacidade das celas) perceberam que as torneiras ficaram secas, começaram a gritar e a bater latas nas grades das celas. A situação só foi contornada com o envio de um caminhão-pipa.

Segundo o governo, o racionamento, que atingiu 9 milhões de pessoas, foi responsável pela economia de 18 bilhões de litros de água.

Já em 1994, foi adotado rodízio após o Guarapiranga ter 30% da capacidade (neste sábado estava em 48,1%). As torneiras eram fechadas nas zonas sul, centro e oeste.

Os ciclos eram de 36 horas sem água a cada quatro dias. O baixo nível do Alto Tietê, que chegou a 23,3% de sua capacidade (neste sábado estava em 10,8%), logo levou o rodízio à zona leste.

A manobra durou até a véspera da posse de Mário Covas (PSDB) como novo governador. Os reservatórios, porém, não tinham se recuperado.

Em 2000, Covas promoveu racionamento nas zonas sul e oeste, depois que o Guarapiranga voltou a cair, chegando aos 40% da capacidade.

O sistema Alto Cotia, que também estava baixo, já havia deixado as cidades de Embu e Taboão da Serra sob racionamento. Cada morador desses locais ficava um dia sem água e dois dias com.

Covas tentava eleger então o seu vice-governador, Geraldo Alckmin, ao cargo de prefeito de São Paulo.

Três meses depois do início do racionamento e antes de os reservatórios se recuperarem, Covas suspendeu os cortes de água. A medida veio 20 dias antes da eleição.

"Se vocês acham que é mais interessante não acabar com o racionamento para não favorecer o Geraldinho, a gente pode pensar nisso", ironizou à época o governador.

Aliados, então, comemoraram a ação: "Tiramos munição do adversário", disse Campos Machado (PTB). A candidatura, porém, naufragou e o candidato do governador ficou em terceiro lugar.

queda

Com a morte de Covas no ano seguinte, Alckmin assumiu o governo estadual e viu novamente os níveis dos reservatórios caírem a índices menores do que os de 2000.

Foi obrigado a instituir um rodízio para cidades da Grande São Paulo abastecidas pelo Alto Cotia. A capital paulista, mesmo com pouca água, ficou fora do racionamento.

Foi a primeira vez desde a criação do sistema Cantareira que se questionou se o maior reservatório da Grande São Paulo poderia secar. Naquela época, ele tinha cerca de 30% de sua capacidade e não se falava em volume morto.

A Sabesp diz que escolheu não adotar racionamento na atual crise, com o Cantareira no patamar de 5% da capacidade, por considerar que medidas como redução de pressão, interligação de sistemas e bônus têm melhor efeito. Com o agravamento da situação, porém, a empresa estuda planos de racionamento antes que o Cantareira chegue ao colapso.


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