Folha de S. Paulo


Possível rodízio já faz moradores estocarem galões em regiões de SP

Nem o porteiro Carlitos acreditou no que viu quando a distribuidora de água descarregou a encomenda do apartamento 82 do edifício Verona, na Pompeia, no início da tarde desta quarta (28).

"Jesus! Isso tudo é pra lá?", perguntou, ao se deparar com os cinco galões de 20 litros e quatro de 10 litros no chão.

Em um ato confesso de "desespero", uma das moradoras do local, Eliana Rossi, 42, resolveu comprar de uma vez 140 litros de água mineral, em vez dos 20 litros que suprem seu consumo habitual por uma semana.

"Eu entrei em pânico com o anúncio de [possível] racionamento de cinco dias sem água. Minha filha tem oito anos e só toma água e suco, a gente usa pra cozinhar, surtei!", diz a dona de casa.

Eliana não foi a única paulistana a sair às ruas nesta quarta para estocar água mineral e comprar utensílios de armazenamento do recurso natural em escassez no Estado de São Paulo.

O desespero dos cidadãos foi provocado pela declaração feita um dia antes pelo diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, de que a capital poderá adotar um esquema de rodízio de cinco dias sem água para dois com.

A dona de casa Fernanda Dias Costa não esperou a distribuidora Expresso de Água, na Pompeia, ter um horário disponível para a entrega. Estacionou seu carro no local e levou os últimos quatro galões de 6 litros à venda no local. "Eu vim por causa do anúncio do racionamento. E todo dia vou vir comprar mais, estou em choque. Como vai ser? Eu também tenho filha pequena", fala.

Na distribuidora de água, as vendas aumentaram 50% de terça para quarta-feira. "Quem comprava dois galões, tá levando quatro, cinco. É o maior movimento que já tive", diz a dona, Nadir Oliveira, 54, que até as 14h já havia comercializado 4.573 litros de água mineral.

LATA D'ÁGUA NA CABEÇA

Outro comércio que viu as vendas crescerem foi o de baldes e galões. A loja Mileh, na avenida Alfonso Bovero, vendeu cinco recipientes plásticos com capacidade de 109 litros nos últimos dois dias.

A aposentada Mathilde Macedo negociava um desses recipientes para colocar na casa de sua filha. "Ela viu que agora tem que armazenar água da chuva, que não dá pra bobear. Estamos desesperadas", diz. E acrescenta: "E a raiva do governo é enorme. Ficavam falando que tava tudo sob controle e agora vem esse 5x2!".

Nos salões de beleza, o racionamento num futuro bem próximo era assunto.

No Lab Duda Molinos, em Higienópolis, a administradora Mariana Ribeiro, 34, grávida de três meses e já mãe de uma menina de dois anos, não sabia por onde começar a traçar um plano de contingência. "Estou desesperada. Não saí pra comprar água, mas vou arranjar mais baldes, pensar em alternativa."

Os donos de restaurantes também surtaram com o aviso de rodízio de água. Chef do Micaela, no Jardim Paulista, Fábio Vieira correu para instalar uma nova caixa-d'água.

Também comprou quatro galões de 20 litros de água mineral, já que na véspera as torneiras secaram. "Acordei em pânico. Se essa for a rotina em cinco dias seguidos, como manter esse negócio?"


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