Folha de S. Paulo


Secretário de Segurança do Rio pede expulsão de major do caso Amarildo

No livro "Todo Dia é Segunda-feira" (Editora Sextante, 2014), o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirma que o pedreiro Amarildo pode ter sido morto por traficantes. Em dezembro, no entanto, ele se pronunciou a favor da expulsão do major Edson dos Santos da Polícia Militar.

À Folha, o secretário disse que não mudou de opinião. "Por um viés administrativo, sou a favor da expulsão. Se ele for absolvido, [depois] entra com um processo e retorna à corporação".

Para o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio, não há dúvida sobre quem matou o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43: foram os PMs da UPP da Rocinha, liderados pelo major Edson dos Santos, que o levaram para averiguação no dia 14 de julho de 2013 e o teriam torturado até a morte e sumido com seu corpo depois.

Marco Antônio Martins-2.mai.2014/Folhapress
Secretário José Mariano Beltrame em visita ao Complexo da Maré ao lado do governador Luiz Fernando Pezão
Beltrame visita o Complexo da Maré ao lado do governador Luiz Fernando Pezão, em maio de 2014

Em entrevista exclusiva à Folha, dentro do presídio da PM, o Batalhão Especial Prisional (Bep), em Benfica, zona norte carioca, o major Edson, 40, diz ser inocente.

A acusação do Ministério Público é baseada nas delações premiadas de quatro policiais militares lotados na UPP Rocinha. Três policiais femininas disseram ter ouvido a tortura praticada. Em juízo, afirmaram que foram coagidas na Divisão de Homicídios.

A principal testemunha da promotoria é o soldado Alan Jardim, que trabalhava no setor administrativo da UPP Rocinha na época em que Amarildo foi abordado.

O militar afirmou, em depoimento realizado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado ) que durante o tempo da suposta tortura, foi proibido de sair de dentro de um dos contêineres. Jardim diz que "ouviu uma pessoa ser agredida e emitir gemidos que aterrorizavam aqueles [policiais femininas] que estavam no interior dos contêineres".

Ao ser liberado para sair do contêiner, o policial disse ao Gaeco que viu cinco policiais carregando algo que se parecia com um corpo dentro da capa de uma moto, em direção à mata atrás da base da unidade. A promotoria acredita que seja o corpo do ajudante de pedreiro.

Já no dia 21 de julho de 2014, em depoimento prestado à corregedoria da Polícia Militar, o policial disse que ouviu somente um interrogatório e barulhos que se assemelhavam à arma taser, que dá choques, mas não gritos ou súplicas.

Ainda no seu depoimento prestado à corregedoria, Jardim diz que o major Edson não estava na UPP no momento em que teria ocorrido o suposto crime. "O major Edson está segurando um problema que não é dele. Ele é corajoso. A coragem que ele tem eu não teria para segurar algo que não fiz", disse. A Folha não conseguiu localizar o policial.

A testemunha Lúcia Helena da Silva Batista, que passava informações do tráfico aos policiais da Rocinha, tinha dito em depoimento que havia sido expulsa por traficantes da sua casa.

Ela afirmou, em seu primeiro depoimento, que os traficantes teriam matado Amarildo, mas depois afirmou que fora coagida pelo major. Atualmente, após sair do programa de proteção à testemunha, está desaparecida.


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