Folha de S. Paulo


Fábricas de São Paulo recorrem até a água de ar-condicionado

Rodízio na produção, corte de turnos, uso de caminhões-pipa e aproveitamento da água que sai do ar-condicionado estão entre as medidas adotadas pelas indústrias na atual crise hídrica em São Paulo, que atinge as regiões metropolitanas da capital paulista e de Campinas.

Se em setembro sondagens da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) mostravam uma preocupação moderada dos empresários com o risco de racionamento, o temor se agravou no fim de 2014.

"O governo mudou a 'postura' que vinha tomando, de tentar minimizar o problema", afirma Nelson Pereira dos Reis, diretor de meio ambiente da Fiesp. "O próprio Jerson Kelman [novo presidente da Sabesp] falou que temos que nos preparar para o pior. E parece que o pior é o que está vindo."

Apelar para caminhões-pipa se tornou uma alternativa necessária para fábricas da Grande São Paulo e do interior, principalmente nos últimos três meses.

Uma das regiões mais afetadas é a de Campinas. As empresas e os rios da região dependem exclusivamente da liberação de água do sistema Cantareira, que sofreu nova redução na terça-feira (20). Desde o ano passado, as autorizações para captação de água em rios da região foram suspensas pelo Estado.

A unidade da farmacêutica Merck Sharp & Dhome, em Campinas, recebe, por dia, até sete caminhões-pipa para manter as atividades. A Rhodia, em Paulínia (a 117 km da capital), pode voltar a adotar rodízio de produção nas quatro fábricas de componentes químicos, como fez por duas vezes em 2014, caso haja novo rebaixamento do rio Atibaia.

A Ambev, em Jaguariúna (a 123 km de SP), admite que a crise hídrica preocupa e reforçou o trabalho de redução do consumo de água, evitando perdas na produção.

Na capital e na Grande São Paulo, 90% das 60 mil indústrias dependem do abastecimento da Sabesp e de autarquias municipais, porque não têm poços artesianos ou eles são insuficientes.

A maioria busca alternativas, como reduzir turnos para poupar água, reutilizar a água na descarga de banheiro e lavagem de pátios, criar meios de captação de água da chuva e até reaproveitar o líquido que sobra do ar-condicionado nos escritórios.

Para complementar a água da rede pública, a fundição de alumínio Daicast, de Guarulhos, é abastecida todos os dias por um caminhão-pipa. Também há relatos de pedidos de caminhões-pipa por indústrias da capital, de Osasco e de Franco da Rocha.

Com procura até 40% maior, a Águas Serra da Cantareira, que fornece caminhões-pipa em Guarulhos, precisou descartar novos clientes. "Tenho que respeitar o limite das fontes subterrâneas", disse a proprietária Vera Lúcia Bellezo.

Editoria de Arte/Folhapress

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