Folha de S. Paulo


Situação da cracolândia gera atrito entre governo do Estado e prefeitura

No último dia 16, a Prefeitura de São Paulo divulgou um balanço do programa De Braços Abertos, no qual aponta redução de 80% na concentração de usuários de crack no trecho entre a alameda Cleveland e a rua Helvetia, onde fica a cracolândia. Na região, também opera o programa Recomeço, do governo do Estado.

De acordo com o estudo, o fluxo teria caído de 1.500 para 300 pessoas por dia, uma realidade diferente da que foi constatada pela Folha na sexta, dia 16. Só às 7h da manhã, havia mais de 300 pessoas no lugar e o volume cresceu durante o dia.

No fim do ano passado, em nota, a prefeitura disse que o problema estava "diretamente ligado à continuada oferta de drogas na região", culpando o governo estadual pela falta de policiamento.

Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que o combate aos traficantes de drogas na capital "tem sido duro, constante e resultou na apreensão de mais de 14 toneladas de drogas entre janeiro e novembro do ano passado".

Na região central ocupada pelos programas sociais De Braços Abertos e Recomeço, 387 pessoas foram presas por ligação com o tráfico e outros 42 menores foram apreendidos. Tanto a Polícia Civil como a militar atuam no local.

Maria Angélica Comis, assessora especial de políticas públicas sobre drogas e que participa da coordenação do De Braços Abertos, diz que, para além da ação da polícia, o programa busca melhorar a condição de vida do usuário com atividades paralelas.

Ela cita "vasos de plantas" cultivadas pelos pacientes e "ressignificação do espaço urbano" por artistas que trabalham com linguagens associadas à cultura de rua, como o grafite.

Em respeito à Política Nacional de Redução de Danos, aprovada em 2005 pelo governo federal, o usuário não precisa estar em abstinência para aderir ao programa, explicou Comis.

Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que coordena o programa estadual, a cracolândia, naquele ponto, continua igual.

"Recuperamos 1.700 pessoas, e estimamos que apenas 1% tenha voltado. Mas se fizéssemos um retrato, veríamos que a cracolândia está igual ao que era no ano passado", disse ele. De acordo com o psiquiatra, há usuários de outras cidades na região.

Para ele, o policiamento e o uso de hotéis pelo programa municipal para abrigar usuários, criou na cracolândia um ambiente mais seguro e cômodo para o próprio usuário.


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