Folha de S. Paulo


No Galeão, francês perde voo por causa de paralisação de aeroviários

A pouco mais de meia hora de seu voo partir, o jornalista francês Jonathan Tamalet, 25, corria com sua mala pela avenida 20 de Janeiro, única via de acesso ao aeroporto internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, zona norte do Rio, na tentativa de chegar a tempo de viajar.

Depois de percorrer quase 3 km a pé, no entanto, Tamalet perdeu o voo para Curitiba (PR). O motivo foi o enorme engarrafamento que se formou na avenida por causa da manifestação dos aeronautas (comissários e pilotos) e aeroviários (profissionais que atuam em solo) nesta quinta-feira (22) no aeroporto do Galeão. Eles reivindicam reajuste com ganho real nos salários de 8,5% e a aplicação deste índice nos demais benefícios (como vales-refeição e alimentação).

O voo de Tamalet estava previsto para sair às 8h45 e chegaria por volta de 10h15 no destino. Com o atraso por conta da manifestação, a Gol teve que remanejá-lo para um voo às 9h28 com escala em São Paulo e previsão de chegada às 13h em Curitiba (PR).

Ricardo Borges/Folhapress
Jonathan Tamalet perdeu seu voo com os problemas causados pela paralisação dos aeroviários
Jonathan Tamalet perdeu seu voo com os problemas causados pela paralisação dos aeroviários

"Essa greve não podia bloquear a via de acesso ao aeroporto. Na França tem greve o tempo todo, mas dentro do aeroporto. Isso é uma questão de respeito", afirmou o francês, que trabalha na Hospitality, uma das empresas organizadoras da Olimpíada de 2016.

Há dois anos no Rio, Tamalet destacou a desorganização do governo. "É uma bagunça. A gente está trabalhando para ajudar, mas como pode um engarrafamento deixar tudo parado na entrada do aeroporto..Por que eles têm o direito de fazer isso? Levar as pessoas de reféns", lamentou.

Por pouco uma família quase perdeu o avião para Bahia também por conta do engarrafamento. "Ficamos uma hora no trânsito. Sorte que a gente saiu cedo se não ia perder o voo", disse a professora Nathally Campos, 29, acompanhada do marido e da filha de 8 anos.

Até as 9h, dez voos atrasaram pelo menos meia hora no Galeão, mas não houve cancelamento nem tumulto. No aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, foram 15 atrasados e ao menos 10 cancelados, mas nenhum registro de confusão.

PARALISAÇÃO

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou às 10h que 19% dos voos programados foram cancelamentos e 7,7% sofreram atrasos entre 6h e 9h da manhã desta quinta-feira (22) em todo o país –período em que houve a paralisação dos aeronautas (comissários e pilotos) e aeroviários (profissionais que atuam em solo).

A paralisação contou com o apoio dos aeroviários e foi decidida após Fentac (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil ) e Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), que representa as companhias TAM, Gol, Azul e Avianca, não chegarem a acordo sobre reajuste salarial e aumento de benefícios sociais.

O movimento, organizado pelos sindicatos dos aeroviários de Guarulhos (SP), Porto Alegre, Campinas (SP), Recife, pelo SNA, que representa 22 Estados, e pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas, deve ser repetido nos dias seguintes, no mesmo horário, segundo as entidades.

A Anac informou ainda que as empresas aéreas e os operadores aeroportuários acionaram seus planos de contingência e estão readequando suas malhas aéreas para evitar maiores transtornos aos passageiros.

O vice-presidente do SNA, Rodrigo Spader, afirmou que durante à tarde desta quinta haverá uma assembleia em seis capitais (Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Campinas e Belo Horizonte) para fazer um balanço da paralisação dessa manhã e deliberar se haverá ou não uma nova paralisação nesta sexta-feira (23).

Balanço divulgado às 12h pela Infraero mostra que 204 dos 1.028 voos programados para ocorrer no país estão atrasados e 84 (8,2%) foram cancelados. Os atrasos e cancelamentos de voos em todo o país são decorrentes da paralisação dos aeronautas e aeroviários.

Segundo a Fentac, as empresas não apresentaram até o fim de segunda-feira (19) uma nova proposta de reajuste salarial e melhoria nos benefícios sociais para os trabalhadores da aviação civil. A última proposta das aéreas foi de reajuste de 6,5% nos salários e 7% nos vales-alimentação e refeição. A Fentac reivindica reajuste com ganho real nos salários de 8,5% e a aplicação deste índice nos demais benefícios (como vales-refeição e alimentação).

Os aeronautas também pedem mudanças nas condições de trabalho, criação de um piso para agente de check-in (para os aeroviários) e escalas que gerenciem a fadiga da tripulação e garantam a segurança de voo de todos. Na terça-feira (20), o TST (Tribunal Superior do Trabalho) determinou que os aeronautas e aeroviários mantivessem o efetivo mínimo de 80% em operação no horário marcado para a parada.


Endereço da página:

Links no texto: