Folha de S. Paulo


Califórnia reduz consumo de água com medidas contra o desperdício

A Califórnia conseguiu economizar 10% do consumo urbano de água de junho a novembro, após um pacote de medidas duras para acabar com o desperdício, graças a três anos consecutivos de seca (veja quadro). A quantidade economizada é capaz de servir 1,4 milhão de californianos por um ano.

O total de água reciclada já chega também a 10% do consumo —edifícios novos precisam ter duplo bombeamento e reaproveitar água para usos não potáveis, de regar jardins, limpeza de áreas externas ou usos industriais.

Os eleitores da Califórnia aprovaram em referendo em novembro a emissão de títulos públicos em US$ 7,5 bilhões para uma série de obras para a reciclagem de água e, principalmente, para mudar a captura da água de chuva.

"Há diversas obras acontecendo, nos inspiramos na Austrália e em Filadélfia, que têm instalado calçadas permeáveis e pavimentos que permitem a água 'entrar' nas bacias", disse à Folha Felicia Marcus, presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos da Califórnia.

"Por décadas, colocamos concreto e asfalto em tudo e a ideia era fazer a água de chuva ir embora o mais rápido possível das ruas. Agora, queremos que ela fique, seja absorvida em praças e parques."
No Brasil, o consumo de água reciclada ainda não ocorre de forma sistemática. Grandes empresas do setor, como a Sabesp, desconhecem seu impacto no consumo urbano.

Em três anos de seca, que afeta o Estado americano mais populoso —38 milhões de habitantes— e em boa parte desértico, não houve racionamento ou corte de serviço —ainda que, em áreas rurais, caminhões-pipa estejam levando água onde poços secaram.

O governador Jerry Brown decretou estado de emergência em janeiro de 2014. Celebridades, como Lady Gaga e Conan O'Brien, gravaram vídeos contra o desperdício.

Editoria de Arte/Folhapress

PLANOS B

"Economizar água é a maneira rápida de responder ao problema. Planejamos e estudamos muito novas fontes, mas qualquer novo reservatório leva dez anos para ficar pronto", explica o chefe do Departamento de Uso Eficiente de Água do governo californiano, Peter Brostrom.

"San Diego está há uma década construindo uma usina de dessalinização de água do mar. Mas essa água, muito bem-vinda, terá um custo de duas a três vezes maior", diz.

Depois de uma seca nos anos 1980, decidiu-se criar um reservatório para ser usado apenas em casos de emergência (nova seca ou terremoto), principalmente para armazenar água de chuva. Iniciado em 1995, começou a ser inundado em 1999, a partir de um aqueduto que traz água do rio Colorado.

O reservatório do lago de Diamond Valley tem 18 km² e custou US$ 2,1 bilhões. Mas, diante da seca atual, está a 50% de sua capacidade.

No curto prazo, o combate ao desperdício se impõe. O governo estadual aprovou leis que obrigam novas construções ou reformas a adotarem toaletes econômicos e sistemas mais modernos.

Em qualquer casa, a descarga do banheiro representa um dos maiores gastos de água. "Hoje, de 60 a 70% de nossos toaletes já têm dois fluxos, mais eficientes, para resíduos sólidos ou para líquidos", diz Brostrom.

Novos sistemas para calcular o preço da conta de água estão sendo aplicados. "Há um consenso de que o uso excessivo precisa ser punido, evitado, e as pessoas têm que pagar pelo desperdício", diz.

Várias agências já calculam as "necessidades básicas" pelo tamanho da família e da propriedade (ou do jardim). Cada litro considerado excessivo pode custar até três vezes mais que a água "básica".


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