Folha de S. Paulo


Paulistas usam barcos para escapar da 'farofa' das praias

Para escapar da "farofa", do "cheiro de fritura", da "muvuca", da música alta, dos "caras bêbados que desrespeitam a mulher dos outros", da sujeira e dos "malfeitores", paulistas resolveram, literalmente, se ilhar.

A cada ano mais turistas curtem os dias de verão no litoral norte de São Paulo nas Ilhas, arquipélago a cerca de cinco minutos de lancha da praia de Juqueí. O acesso restrito a quem tem barco "filtra" os turistas, dizem os frequentadores, que consideram a si mesmos "mais conscientes" e "tranquilos."

Editoria de Arte/Folhapress

Cada visitante costuma trazer o que vai consumir. A maioria dos barcos possui grelha. Levam boias, pranchas e barracas, para quando resolvem se esticar nas areias do arquipélago.

Há quatro cabanas de comida e bebida espalhadas pelas duas praias das Ilhas. Mas elas não incentivam propriamente o "turismo farofeiro". Um coco, por exemplo, sai a R$ 10. A caipirinha, a R$ 25. Cerveja "long neck", R$ 10.

O engenheiro Egydio Ferreira Costa, 34, comprou um barco há um ano em sociedade com três amigos.

Avener Prado/Folhapress
Turistas nas ilhas, litoral norte de São Paulo
Turistas nas ilhas, litoral norte de São Paulo

Desde então, ele só foi à praia nas Ilhas. Na areia do condomínio onde tem casa, próximo à Riviera de São Lourenço, não pisou mais. "O pessoal bebe e desrespeita a mulher do outro. Aqui vem um público mais consciente. Só quando é barco alugado ou 'banana' vem um pessoal diferenciado", opina.

Egydio se refere aos passeios que, em geral, saem de Juquehy, em que a lancha puxa uma boia comprida chamada de "banana". Por R$ 20, o turista passa 20 minutos no arquipélago. Por R$ 40, pode ficar um pouco mais.

Osmar Silva, há 15 anos o único morador das Ilhas e responsável por uma das barracas, diz que o lugar já foi mais deserto. Se, há alguns verões, via passar cem lanchas, hoje o número triplicou.

A praia de Boraceia, onde a educadora física Tayla Oliveira, 44, tem casa, "tem muita farofa e cheiro de fritura". Ela lamenta que sua opção pela paisagem selvagem esteja ameaçada. O aumento de turistas já gera acúmulo de lixo. "Eles gostam da natureza, mas não de preservá-la", criticou, apontando para um pedaço de churrasqueira abandonada na areia.


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