Folha de S. Paulo


Com 3 quedas em 4 dias, árvores afligem os moradores de Higienópolis

As árvores, principalmente as que caíram ou que correm risco de despencar, viraram o assunto da semana na rua Itacolomi, em Higienópolis, região central de São Paulo.

Desde a última segunda (22), três árvores tombaram na rua devido às fortes chuvas que atingiram a cidade. Uma delas caiu sobre um táxi onde estava o administrador Ricardo Mendes, 32, que morreu.

"Só se fala nisso. O pessoal até desceu dos prédios ontem [25] para tratar do assunto", disse a aposentada Celina Scali, 83, enquanto fazia uma caminhada com a irmã Sirlei, 79.

As duas moram na Itacolomi há sete anos. "Olha aquela, como está velha e torta. Pode cair a qualquer momento", disse Sirlei.

Árvores antigas nem sempre são derrubadas pela chuva ou pelo vento só por causa da idade: a poda errada também é uma hipótese, na opinião do professor de botânica da USP Marcos Buckeridge.

Adriano Vizoni/Folhapress
Após quedas em série, árvores são podadas na rua Itacolomi, em Higienópolis, ontem
Após quedas em série, árvores são podadas na rua Itacolomi, em Higienópolis, ontem

Segundo ele, em uma estimativa "bastante grosseira", aquelas árvores têm entre 60 e 70 anos. "Árvores mais velhas, meio doentes, desbalanceadas em peso por causa das podas erradas, e numa situação de chuva prolongada, têm maior probabilidade de tombarem", afirma.

Ele recomenda uma investigação para saber se não existe alguma doença comum às árvores da região.

"Meu filho disse que não estaciona mais o carro aqui. Outro filho falou: Pai, quando estiver chovendo, nem apareço aí'", conta o aposentado Maurício Vidigal, 73.

Morador do bairro há oito anos, ele diz não sentir medo de estar embaixo de uma árvore em queda. "É uma loteria. Não dá para saber a hora."

Como diversas ruas de Higienópolis, a Itacolomi é arborizada em toda sua extensão (cerca de 700 m). Alguns exemplares chegam tocar os prédios e a rede elétrica.

"É bom morar em um lugar cheio de árvores. É bonito. Mas algumas ficam anos sem poda, é um problema antigo. Os galhos viraram troncos, tem muito cupim. E aí, você pensa: E se eu estiver embaixo?'", pergunta o argentino Antonio Rodriguez, 81, há 42 anos vivendo na rua.

Na tarde de ontem, ele e outros moradores observavam funcionários da prefeitura podando uma árvore na esquina com a rua Sergipe. Os bombeiros tiveram de emprestar uma escada magirus para que os pontos mais altos fossem alcançados.


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