São mais de 20 mamadeiras sujas, ao menos seis banhos e uma máquina de lavar roupa cheia todo dia. Até aí tudo bem. O "plus", no entanto,... bom, aí já é demais para a engenheira Júlia Martinez Bertazini Daoud, 32, mãe de trigêmeas de 4 meses e de um menino de 3 anos.
Assim chamado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), o "plus" -ou sobretaxa para quem aumentar o gasto de água- vai atingir em cheio as contas da família da engenheira, que cresceu mais do que o esperado.
Em meio à maior crise hídrica da história, o Estado de São Paulo irá cobrar taxa extra para quem ampliar o consumo de água.
Terão acréscimo de 20% na conta os consumidores que tiverem aumento igual ou menor que 20% em relação à média de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. Quem aumentar em mais de 20% o consumo terá ônus de 50%.
| Fabio Braga/Folhapress | ||
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| A engenheira Júlia Daoud, que teve trigêmeos; famílias que cresceram poderão contestar a sobretaxa |
Em qualquer um dos casos, Júlia sabe que estará entre os punidos. "Só o que lavo de mamadeiras por dia... São três bebês que tomam fórmula [substituto ao leite materno]", afirma.
Os banhos são um capítulo à parte. Ao menos seis-para as crianças, ela e o marido, isso quando os bebês não precisam de mais. "O menino mais velho não quer saber de banho, mas quando entra não quer sair mais."
Estarão livres da sobretaxa aqueles com consumo considerado baixo -inferior a 10 metros cúbicos mensais- e casos específicos, como o de Júlia.
Com a chegada das meninas neste ano, o consumo mensal da família, claro, cresceu. No último mês, a engenheira pagou cerca de R$ 50.
De acordo com a Sabesp, quem, como ela, teve filhos recentemente pode contestar o cálculo da média mensal do último ano. Para isso, deve comparecer a uma agência da empresa, preencher o requerimento e apresentar a certidão de nascimento. Três, no caso dela.
Quem se mudou neste ano para imóvel que estava fechado em janeiro e também pode pedir a revisão.
sem saída
Júlia pode conseguir se livrar da sobretaxa. O mesmo não deve acontecer no caso de empresas em que a água faz parte do trabalho.
Responsável por treinamentos e programação aquática da rede de academias Runner, Guilherme Moscardi avalia que em janeiro será impraticável para as 20 unidades da marca ficar abaixo da média anual.
Na sexta (19), um dia após o anúncio do governo do Estado, a rede emitiu um comunicado aos franqueados com instruções para quem ainda não conseguiu diminuir ao mínimo o consumo de água.
Ainda assim, abaixo da média não devem ficar. Normalmente, a frequência nas academias da rede costumam subir de 20% a 25% no verão. "Esperamos mais gente entre janeiro e março. É impossível ficar abaixo da média", diz.
Colaborou GIOVANNA BALOGH