Folha de S. Paulo


Antônio Fernando Bueno Marcello (1945-2014) - Entrou na clandestinidade contra a ditadura

Os carros passam em alta velocidade nas ruas do Jardim Europa, em São Paulo.

Do banco de trás, Juquinha atira contra os policiais, que também disparavam. Baleado, Ringo não conseguia mais atirar. O carro bate.

Os dois são capturados e tratados como ladrões até que um policial encontra um manifesto no bolso de Juquinha. "É [preso] político", comemora o agente.

Eram essas histórias dos tempos da ditadura que por vezes as filhas de Antônio Marcello (nome real de Juquinha) queriam ouvir do pai.

Ele, porém, respondia apenas que os quatro anos do cárcere haviam sido proveitosos. Afinal, tivera tempo para ler tudo o que queria.

Poupou as filhas das cenas de torturas no Dops, no Doi-Codi e no presídio Tiradentes.

Antônio era bancário quando ingressou na clandestinidade. Solto da prisão, formou-se jornalista e apoiou o movimento grevista dos sindicatos do ABC Paulista.

Escreveu para Folha, "O Estado de S. Paulo" e "Correio Braziliense". Tornou-se assessor da Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

Além da mulher, Tania Mendes, deixa as duas filhas, Maria Carolina —em homenagem à canção "Carolina", de Chico Buarque— e Maria Domithila —referência à líder trabalhista e feminista boliviana Domitila Barrios de Chúngara. As duas se recordam do pai tentando cantar com voz desafinada as canções de Nara Leão.

Morreu aos 69 anos, de complicações de uma infecção hospitalar, em Brasília.

coluna.obituario@uol.com.br


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